O corriqueiro no reino da impunidade

20 de Janeiro de 2015

Jornal O Liberal

De forma mais sutil, para não dizer enganadora, neste país tupiniquim, grande, bobo e irresponsável, ainda persiste a prática do famoso “sabe com quem cê tá falano?” ou “cê sabe quem sô eu?”. Símbolos verbais da truculência, caracterizada pelo bater antes de perguntar, tais perguntas desapareceram do quotidiano, para se imiscuir no dito folclórico, a exemplo de tantas bobices e breguices de país subdesenvolvido. As indagações desapareceram, mas continuou a atitude imperial que, mudando de lado, não mais exibe a força bruta, porém o glamour das celebridades, apoiado na força econômica, de fato, ou presumida. Nos últimos dias do ano passado, a opinião pública foi chocada com o comportamento de destacado cantor popular que, sob visível estado de embriaguez, provocou violento acidente, felizmente sem causar vítima. Algo de novo no fato? Nada de novo, porque acidentes de trânsito provocados por bebuns acontecem a todo o momento, sem que a lei, as autoridades, sejam lá quem sejam, os refreiem dentro de limites aceitáveis. O fato de o infrator ser uma celebridade também não é novidade, pois, são conhecidos outros casos de pessoas públicas envolvidas como causadoras de acidentes, nas mesmas condições. O chocante, impactante, assombroso, revoltante é o fato de o infrator já ter matado um casal, em 2001, quando perdeu o controle do veículo a cento e sessenta quilômetros por hora. Em razão disso teve sua CNH cassada e foi condenado a pagar indenização às famílias das vítimas, mas, até hoje, não pagou. Depois de causar a morte do casal, o cantor já recebeu 108 multas por infrações/excesso de velocidade e perdeu quinhentos pontos na CNH, mas continua a dirigir irresponsavelmente. Quanto ao recente acidente, pagou a fiança e saiu tranquilo da delegacia, tal qual cidadão de bem, embora já tenha demonstrado ser de alta periculosidade quando na condução de veículo. Por que tal indivíduo continua a dirigir? Ultrapassado o limite de pontos perdidos, como sua CNH ainda continua sendo aceita? É que a clássica pergunta “cê sabe quem sô eu?” não mais se faz, neste caso substituída pela imponente presença do BMW e pelo condutor a cuja fama de cantor se junta agora a fama de grande infrator.