O mundo em casa II

23 de Junho de 2015
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Em continuidade ao aqui iniciado, na edição anterior, acrescente-se que a internet, longe de ser apenas uma novidade tecnológica, pode ser o portal por onde a humanidade dará passos mais largos, em direção ao conhecimento e desenvolvimento humano/científico/tecnológico, em proveito de si mesma. Embora assombrosa para as massas e já muito útil a quem sabe explorá-la, sua potencialidade ainda está longe de ser alcançada, mesmo com o avanço que se processa.

O que, hoje, se faz pode parecer o máximo, mas é bom lembrar que a web é bastante recente. Comparem-se os atuais televisores com os primeiros; ponham-se lado a lado, em solo ou a voar, o primitivo 14-Bis e a mais moderna das aeronaves. Para não distanciar muito do homem comum, comparem-se os primeiros telefones celulares e a diversidade dos de hoje à mão de qualquer pessoa. A internet, portanto, ainda tem muito a se desenvolver!

A evolução se processa em ciclos ascendentes à semelhança de uma espiral na perpendicular. Por vezes, costumes, hábitos e fenômenos sociais se repetem, não nas mesmas condições, já não possíveis, porém sob aspectos semelhantes, nos pontos equivalentes aos da espira imediatamente abaixo.

A grande industrialização sugou recursos humanos das pequenas cidades, das comunidades rurais, para construir o chamado progresso e, às vezes, fabricar os mesmos produtos que, antes, eram feitos “em casa” mesmo. O resultado disso foi a desumanização das cidades maiores, “favelamento”, encarecimento e redução da qualidade de vida, enquanto as pequenas cidades se enfraqueciam socioeconomicamente, passando a pagar mais caro pelo que deixaram de produzir, artesanalmente. Pressionadas pela carência local e iludidas com a falsa imagem de sucesso, nas metrópoles, as populações interioranas continuaram a emigrar para as grandes concentrações industriais, grave erro político, quando não se previu que a distribuição das indústrias por todo o território nacional teria sido mais favorável ao país como um todo.

Na economia anterior, as pessoas, especialmente em comunidades menores, se proviam do sustento de forma independente ou na relação direta com pequeno empregador, em clima de cooperação mútua. É verdade que não havia garantias sociais, como hoje, mas as oportunidades de a pessoa se manter, de forma autônoma, eram muito maiores, sem as atuais pressões tributárias. Para vestir-se, por exemplo, o tecido era adquirido e encaminhado à costureira, no caso de roupa feminina, ou ao alfaiate, no caso masculino. Em qualquer localidade havia vários(as) profissionais, que se mantinham, exclusivamente, com o trabalho da confecção sob encomenda. O mesmo acontecia com o calçado. Quanto à manutenção das tropas de burros e das montarias, meios de transporte de então, outro grande grupo de profissionais se mantinha ocupado, desde o processo de curtir (esqueça o Facebook) o couro até a produção dos artefatos, como sela, cangalha, rabicho, laço, rédea, tala, chicote e outros. Os trançadores, profissionais dedicados a trançar rédeas, chicotes, laços e similares eram também conhecidos como “chicoteiros”, na região de Ouro Preto. No meio feminino havia ainda doceiras, quitandeiras, sem esquecer as licoristas, que produziam licor, bebida muito apreciada e usada na recepção a visitas.

Todas essas atividades desapareceram ou perderam espaço com a industrialização, mas autonomia pode voltar para muitos profissionais e mesmo para pessoas simples, sem muito conhecimento técnico. É o que promete a internet, espaço para o qual migram muitos profissionais de áreas diversas, acompanhados por outros nem tão preparados, porém dotados de visão sobre as oportunidades que se abrem. Contudo, esses pioneiros são minoria, gotas esparsas num oceano de mediocridade, pois, de forma geral, computador ainda é visto como máquina para jogar (vídeo game) e a internet, interpretada como espaço onde interagir com o submundo da incultura, das vulgaridades e das expressões que se contrapõem aos verdadeiros valores da civilização. Na internet há espaço para quem quer produzir (campo da informação); para quem quer transferir conhecimentos e habilidades com o fim precípuo de desenvolver talentos; para quem quer aprender; e há espaço, sobretudo para quem quer e tem o que vender. E a construção das ferramentas para tudo isso já foram liberadas pelos gurus da programação, pois podem ser montadas por qualquer indivíduo de medianos conhecimentos. Mas o internauta ao invés de se valer dos recursos da internet para dar a volta por cima da crise, que ameaça seu emprego, prefere curtir vulgaridades nas redes sociais ou, pior, injuriar e difamar seu semelhante.

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