O povo decide bem

04 de Janeiro de 2012
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Neste país grande e bobo, às vezes, se surpreende com a atitude de seu povo, tão iludido, mal educado e por isso manipulado por uns e outros, que se lambuzam de poder, em detrimento das necessidades coletivas mais urgentes. É assim que populações de regiões metropolitanas continuam a se locomover em trânsito caótico, com prioridade ao veículo de ocupante solitário, ônibus poucos e mal distribuídos no tempo e no espaço, tudo na contramão das reais necessidades dos usuários e – por que não? – da economia local.

A implantação do transporte de massa, configurado no trem metropolitano (metrô), arrasta-se ao longo de décadas, em vários pontos do país, a servir mais como muleta em campanhas eleitorais, assim como o são carências da malha viária no interior. Horas de descanso o trabalhador gasta nas filas de espera, mais outro tempo em coletivos superlotados, para chegar ao trabalho e deste voltar à sua casa. A cada campanha eleitoral tudo isso é “resolvido” na lábia de candidatos, que se elegem e se reelegem; alguns deles graças a máquinas e algum material colocados estrategicamente ao longo de estradas secundárias, fazendo crer aos eleitores que aquela via seria asfaltada, atendendo assim a necessidades antigas. Outros, indo pouco além, levavam a pavimentação em “suaves prestações”, de quatro em quatro anos. Mesmo assim tais políticos receberam compensação em votos pelo “grande serviço prestado”.

Era a versão atualizada do par de botinas em duas parcelas: um pé dado antes e outro depois da eleição ganha; a transposição da corrupção do individual para o nível coletivo! Atualmente, o grande nó são rodovias federais, uma das quais a cortar a Região dos Inconfidentes, que não recebem manutenção, chegando-se ao cúmulo de ponte deteriorar-se, ao longo do tempo, e quase desabar; sem falar no grande número acidentes com mortes, que justificam epítetos como “rodovia da morte”, “rodovia do sangue”.

Hospitais, de acordo com denúncias feitas pela imprensa, não cumprem o mínimo exigido, que seria a higiene, até mesmo pelo bom senso, no atendimento precário e desumano. Pacientes amontoados nos corredores, falta de profissionais, equipamentos danificados, quando não faltantes, descasos e descuidos na origem de óbitos, são manchas berrantes na triste imagem de serviços de saúde voltados aos que não podem pagar.

A queda de sete ministros, por suspeita de “maracutaias” no primeiro ano do atual governo, aponta para a fragilidade de todo o sistema político-partidário-administrativo, cujo arcabouço foi desenvolvido, ao longo dos anos, em atendimento a interesses pessoais e de grupos, deixando de fora aspirações abrangentes na formação de uma nação. O povo é iludido com eleições, ditas livres e democráticas, que não passam de escolha entre candidatos previamente escolhidos pelas cúpulas partidárias, atendendo a critérios de popularidade, desvinculados da competência, da formação moral e da honestidade. No país em que se lambe a bola e chuta a escola, mais valem rebolados lascivos e a mediocridade como projeto de vida. Disso se valem os espertos para chegar e continuar no poder. E ainda põem na boca da mídia comprometida que o eleitor brasileiro é que não sabe votar!

Por isso, causou surpresa o resultado do plebiscito, por meio do qual se pretendia o "loteamento" do estado do Pará. Diferentemente, das eleições em que opção, comumente, se faz entre o ruim e o menos ruim, a proposta do plebiscito foi direta; por isso, facilmente entendida e rejeitada pelos paraenses, que optaram pela manutenção da integridade de seu território, que não se encerra no espaço físico, mas, abrange cultura, tradições, costumes, modos de vida, que caracterizam aquela parte do Brasil. Divisão territorial ou emancipação, nem sempre corresponde a necessidades, de fato, como desenvolvimento e melhor gestão. Na maioria das vezes, corresponde, sim, a interesses políticos, para não dizer politiqueiros. As ratazanas proliferam, desordenadamente, e, chega o momento em que o queijo se torna insuficiente e inacessível a tantos ratos. A solução é "fabricar" mais queijo para sustentar a comilança!

No caso do Pará, a coisa falhou! O povo foi inteligente! Para o jornal O LIBERAL, na última edição de 2011, trata-se de registro feliz. Fundado pelo paraense, Dyrceu José Rendeiro de Noronha, e espelhado no O LIBERAL, de Belém-PA, o O LIBERAL de Cachoeira do Campo/Ouro Preto sempre defendeu a integridade territorial, em consonância com as aspirações da população. O Noronha não mais está entre nós. Entretanto, pode-se afirmar que ele estaria satisfeito com o resultado do plebiscito.

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