O tempo para quem precisa de tempo

25 de Junho de 2014
João de Carvalho

João de Carvalho

AS FUTURAS gerações hão de agradecer pela nossa sensatez. O ser sensato é aquele que previne o futuro. O futuro é hoje, é agora. O passado já se foi. O futuro não existe. O presente é a realidade. O tratamento que a natureza recebe agora se for bom e útil, tende a qualificar o futuro. Se for deficiente, mau, tende a desagradar ou mesmo comprometer o futuro. O fato de sintetizarmos o passado e o futuro no presente coloca-nos numa situação de uso correto das coisas, dos seres e das posses, em nossa decisão. É preciso viver o presente. Aliás, só é possível viver o presente.

Daí, as responsabilidades no trato com as situações de agora, de cada dia. É a filosofia salutar da vida.

Estar antenado com o hoje, conectado com os acontecimentos e afazeres de cada dia, é sabedoria socrática.

Tudo o que fizermos hoje, é reflexo do passado ou pré-flexo do futuro. A divisão do tempo é apenas uma retaliação humana da eternidade. Esta é indivisível, imensurável, retilínea, sem curvas, nem metrificação. A eternidade não tem porta de entrada, nem de saída. Nela está Deus, sem ter deusa. Nela, a ilimitação do limite. O falso limite da ilimitação. Quando a gente fala, que vai impor limite, está fracionando o infracionável.

Na verdade a gente apenas está, com o compasso, descrevendo uma circunferência, no centro do vasto espaço da eternidade.

Ao eterno, se opõe o temporal. Ao além, se contrapõe o aquém. É o contraste dos opostos: lá e cá!

O tempo a gente divide em dia e noite. Em horas, minutos e segundos. Em ontem, hoje e amanhã.

Se você tiver tempo, divirta-se com este soneto, sobre o tempo, feito por um autor, que teve tempo de filosofar sobre o tempo, há muito tempo!

Ele se chamava Frei Antônio das Chagas (1631-1682):

Soneto

“Deus pede hoje estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para ter minha conta, feita a tempo,
O tempo me foi dado e não fiz conta.
Não quis, tendo tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta e não há tempo.

Oh! Vós, que tendes tempo, sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo, em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Pois, aqueles que sem conta gastam tempo,
Quando o tempo chegar de prestar conta,
Chorarão, como eu, se não der tempo.”

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