Oportunidade de mudanças I

05 de Setembro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Nesta semana, o Brasil encerrou o processo de impedimento da presidente, Dilma Rousseff, o segundo do gênero, vinte e quatro anos depois do movido contra o então presidente, Fernando Collor de Melo. Foi um longo período de desgaste para todo o país, cujos políticos se sentem donos dos mandatos e, em nenhum momento, lhes ocorre um surto de humildade, mediante reconhecimento de seus erros e fraquezas.

Valeu a pena? Só o tempo, de acordo com o andar da carruagem dos políticos, dirá. Se o país for recolocado nos trilhos, política e economicamente, há esperança de se descortinarem novas oportunidades, trazidas pela roda do tempo em seu giro. Mas – há sempre um “mas” a fazer suspense – como já dito, políticos nem sempre pensam como pensa a nação, razão pela qual, este país costuma entrar pela contramão e rodar dentro da canaleta, só não saindo da estrada, de fato, porque Deus é brasileiro e parece ter pena dos tupiniquins. Só substituir um político por outro não traz solução e, muito menos, se em lugar de um e outro se colocam os respectivos partidos. A coisa está tão ruim que políticos com mais juízo (poucos) começam a perceber a corda em volta de seu pescoço!

Quando era tempo de preparar o país, como um todo, para trilhar seu próprio caminho, os que tinham poder, para isso realizar, deixaram-se embalar nas comodidades e mordomias proporcionadas pela política menor. A primeira parcela do preço pago começou com o enganoso canto da sereia na conquista da patuleia que, sempre manipulada e nunca atendida em suas necessidades, sentiu-se valorizada ao ver lhe serem estendidas, às mancheias, miçangas e bugigangas com as quais pensou locupletar-se; houve a segunda parcela configurada na corrupção, antes pontual e individualizada, que se converteu em corporativa à semelhança de grandes conglomerados do mal ou de grandes quadrilhas; por fim a terceira parcela, configurada na crise generalizada que, na verdade, é resultante das duas ações anteriores, acrescentada a má gestão do governo que se encerra.

Do sistema político vigente não há o que recuperar. Chegou a um ponto que já desperta desconfiança mesmo entre os menos politizados. Portanto, muito há ainda por fazer. Melhor dizendo, muito há que desfazer, para que se molde uma nova, sólida e democrática base, onde possa se levantar outro edifício político, no qual todo cidadão tenha assento, sem ter que se filiar a grupos, partidos e assemelhados, cujos propósitos podem ser muitos, exceto o bem da nação. Os fatos têm demonstrado isso. A política não depende de partidos e a democracia nasceu sem eles. Portanto, é perfeitamente possível, sobretudo em tempos da informática e da internet, que a política volte a ser feita sem eles, diretamente da base sob o amparo da Justiça Eleitoral. Dirão que o sistema ainda não existe no mundo. Então, que o Brasil seja o pioneiro! Observe-se que o eleitor brasileiro não é muito ligado a partido na hora de votar; ele vota na pessoa candidata! O atual sistema favorece, descaradamente, a corrupção e a troca de favores entre o Executivo e o Parlamento, nos três níveis. Não será com uma reformazinha corriqueira, a cargo desses mesmos de sempre que o país sairá da trilha nebulosa, uma democracia de fachada, manipulada por uns poucos, cabendo ao povo dizer amém a tudo e levar a culpa pela eleição dos maus candidatos, indicados por aqueles.

Se houver vontade verdadeira em mudar os rumos deste Brasil, o momento é este; não para mudança inopinada, radical, historicamente comprovada como causa de sofrimentos desnecessários, especialmente entre os fragilizados. A mudança deve vir gradual, bem estudada e discutida com toda a nação. Que a primeira inovação seja a abertura à candidatura avulsa, livre, não ligada a partido! Ter como inelegível o cidadão não vinculado a partido é o maior pecado do atual sistema político, razão pela qual não se pode classificá-lo, genuinamente, democrático. Outra grande falha está no processo de escolha dos candidatos, totalmente à margem do eleitorado. O eleitor vota em candidatos pré-escolhidos à sua revelia; no “prato feito” recebido, as opções podem não corresponder às suas expectativas. Se o eleito se revela mau gestor, mau político, o eleitor ainda leva a culpa por não ter sabido votar. Mas quem fez a pré-escolha não foi ele. Muito cômodo para os que criaram e mantêm esse sistema tendencioso, em nada favorável ao eleitor quanto ao dito direito de escolher e eleger quem, de fato, merece. Além de tudo, deveria ele ter, também, o direito de cassar o mau político.

Por tudo isso, na melhor das hipóteses, o Brasil é um país semidemocrático!

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook