Oportunidade de mudanças II

09 de Setembro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Consumado o impeachment, cujo processo desgastou o país ao longo de nove meses de discussões, o ideal seria que o velho e corrompido sistema político-partidário fosse lançado ao lixo e, em seu lugar, se inaugurasse outro, mais democrático e blindado contra corrupção. Se assim estivesse previsto, as eleições municipais de outubro próximo, não seriam marcadas pelos mesmos vícios de sempre e novos rumos seriam encarados pelos municípios. Infelizmente, não é assim e o eleitorado continua atrelado a um esquema, que pouco ou nada contribui para que melhores condições de vida sejam estabelecidas.

Veja-se, por exemplo, a lambança, que foi o desfecho do processo do impeachment. O fatiamento da votação com o consequente resguardo dos direitos políticos da ex-presidente bateu de frente contra a Constituição. E agora, que fazer? Como se fará e caberá a quem o desatamento do nó dado ao fim da memorável e decisiva sessão de julgamento? Cidadãos conscientes estão atônitos com tudo o que ocorre nas esferas mais altas!

Contudo, o eleitorado pode, desde já, repudiar o sistema, mediante anulação do voto, repetindo, nas urnas, a insatisfação demonstrada nas manifestações de rua. É um direito que ele tem, mas esbarra numa questão de consciência, falsa e matreiramente inoculada ao longo dos anos, com vistas à carreação de votos, ainda que ainda que não representem a legítima vontade do eleitor. Segundo o pressuposto, bem conveniente ao político profissional, catador de votos, a anulação do voto em decorrência de insatisfação com o sistema ou da não aceitação dos candidatos apresentados, seria um ato irresponsável de cidadão destituído de consciência cívica. Isso é o que eles dizem, mas, somente com relação ao voto anulado. É a pura hipocrisia como instrumento de manipulação da vontade do eleitor! E com relação ao voto dado em troca de favor? Nenhuma objeção da mesma parte.

Muito são os votos, dados irresponsavelmente, sem qualquer propósito de eleger o melhor ou mais qualificado. Nessa linha, há o voto “ao amigo” não importa se competente ou não; o voto pela aparência física; voto ao “que prestou algum favor”; o voto “ao herói” e “ao artista”; o voto ao “menos ruim” e, por fim o voto do “maria vai com as outras”, sustentado pelos resultados de pesquisas de última hora. Todos esses tipos de voto recebem críticas, mas nenhum deles marca o eleitor com a pecha de “alienado político” quando, na verdade, ele pode estar mais envolvido que muitos dos que dão seu voto a alguém.

Sabe-se que o Tribunal Superior Eleitoral – TSE deu interpretação matreira ao Código Eleitoral e não mais convoca novas eleições em casos de o número de votos nulos ser superior ao de votos válidos, embora aquele documento seja bastante claro: “Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 (vinte) a 40 (quarenta) dias”. Ainda que, neste caso, a lei não seja cumprida em sua essência, o voto nulo consciente significa repúdio ao sistema e luta por novas regras para a política eleitoral. Não se trata de julgamento ou condenação de qualquer candidatura de A a Z. O sistema vigente é que não merece confiança!

E a campanha eleitoral em andamento? Que coisa sô! A população não merece! Da panela caiu nas brasas com a proibição da pichação das ruas e liberação do som abusivo. Os ouvidos não mais aguentam tanta agressão desde a pobreza das mensagens até o alto volume, passando pela má qualidade dos jingles (musiquetas). Coisa mais ridícula não poderiam ter idealizado para esta campanha! Luta-se tanto pelo direito ao silêncio ou, pelo menos, som menos agressivo, mas pelo que se ouve, na próxima gestão municipal a coisa se agravará. Os “jecas do asfalto” estão com a corda toda, cada qual a fazer campanha por uma candidatura. Quando se livra de um “batidão” com os graves acima dos agudos, lá vem outro a tentar abafamento do que vai à frente. Os candidatos, em sua ânsia pela “boquinha” municipal, não percebem que estão a perder ao invés de conquistar votos.

A barulheira é tanta que quase não se houve nome e número do(a) candidato(a). Há campanha que mais parece publicidade de determinado supermercado, cujo nome está mais evidente. A coisa está ruim mesmo! Só não percebem isso os candidatos e seus cabos eleitorais. Se os eleitores levarem em consideração a irritação causada pela qualidade da propaganda e respectiva barulheira, ninguém será votado.

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