Oportunidade de mudanças IV

07 de Outubro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Em meio ao trovejar dos canhões e tremores dos bombardeios, na guerra da Lava Jato, quando a cada ação tombam figuras exponenciais da triste política brasileira, realizaram-se as previstas eleições municipais. Que de novo trazem essas eleições às esperanças brasileiras, dentro de cada célula da divisão administrativa nacional?

Nas últimas décadas, pouco ou nada, porque, com raras exceções, os nomes são os mesmos à frente dos vícios de sempre. Mudou, sim, o sistema de votação, para melhor, embora tentem desmoralizá-lo como aberto a fraudes, mais que o anterior, caracterizado pela cédula única. Sabe-se, porém que frustração, por não mais poder fazer o que se fazia, é que impele os frustrados contra a medida que os contém em sua sanha de burla. Cem por cento seguro contra fraudes nenhum sistema de votação o é, mas dizer que o anterior seria mais seguro é zombar da inteligência alheia. Quem votou pela primeira vez, em 1958, quando foi trocada a “marmita” pela cédula única, sabe muito bem quão favorável à fraude era o sistema antigo, possibilidades que se reduziram com a implantação do novo. De repente, as cédulas trazidas de casa pelo eleitor dentro de um envelope (marmita) não puderam mais ser trocadas, à boca da urna, como se fazia, descaradamente. O eleitor passou a receber a cédula única, dentro da seção eleitoral, para então votar. A fraude não desapareceu, porém se reduziu e trocou de momento. Posteriormente, o título de eleitor foi substituído por modelo mais eficiente, e, na atualidade está em implantação a identificação do eleitor mediante leitura biométrica Com a urna eletrônica mais difícil se tornou a fraude, mas onde atua o homem... nunca se sabe!

E quanto à estrutura político-partidária? Nada mudou, prevalecendo ainda o caciquismo, disfarçado ou escancarado, conforme caráter da figura central do partido, momento e conveniências locais. Assumida a posição, como criador do partido, por manipulação de correligionários e até, por herança (por incrível que pareça), o cacique manda, desmanda, toma e não pede. Para alguém alçar-se na política não contam idealismo, boa fé e vontade de trabalhar pelo bem comum, mas é indispensável ser “amigo” do rei e sua corte, curvando-se à sua vontade, incondicionalmente. Na verdade, cada partido político é como um cometa: pequeno núcleo duro constituído pelo “chefe” e seus imediatos, seguido de uma cauda de poeira que é a militância. Dessa forma, são excluídos os mais capacitados e escolhidos os que nunca, por talento e capacidade, deveriam ter chegado onde chegaram.

Como cúmulo da injustiça, a má escolha é debitada ao eleitor, que apenas confirma os candidatos apresentados. Ao longo dos anos, a política, que deveria ser missão, foi transformada em profissão por néscios, corruptos e corruptores. Ao mesmo tempo, observa-se que a recandidatura ad infinitum (sem limite) de parlamentares consolida o “profissionalismo” político, inibe a renovação de forças representativas, favorece oligarquias. e se constitui em fator de corrupção. Esse quadro, a longa permanência no poder, contraria o princípio republicano da rotatividade e alternância nos cargos políticos, cuja finalidade, entre outras, é a inibição das redes de influência que, fatalmente, se formam com a longevidade do mandato.

Essa coisa está podre, de fato, e não há operação “Lava Jato”, que dê jeito no país, ainda que severamente punidos os envolvidos, se o sistema não for erradicado e substituído por outro, mais consonante com os princípios democráticos. Sob o sistema vigente, a cada eleição mais se enfraquecem as forças políticas idealistas/construtivas, verdadeiras impulsoras da nação, dando lugar ao populismo, à mediocridade, interesses pessoais e de grupos, sob o pálio da corrupção. Quanto aos meios de se efetuarem as mudanças, esbarra-se no corporativismo dos políticos, aos quais não interessa alterar o status quo, ou seja, o estado atual da coisas. Seria o momento de entrarem os juristas, em ação, migrando da teoria na qual se acomodam. O povo, a sociedade como um todo, devidamente mobilizada sob os estímulos do atual combate aos maus políticos e à corrupção, está aí para sustentar o debate e, por fim, adotar caminho mais justo, transparente e democrático.

No município de Ouro Preto, uma mixórdia de partidos sobe ao poder com hurras, abraços e beijos, que desaparecerão na posse para, então, se converterem em uivos, rancores e ranger de dentes diante das poucas e magras tetas para tantos apaniguados. Embora a figura do vereador seja municipal e não distrital, cada distrito sempre teve a pretensão de eleger pelo menos um. Nesse aspecto, o distrito de Cachoeira do Campo, o mais populoso, é o que mais perdeu. A campanha, mais burra e ridícula da história, azucrinou e desrespeitou a população com tanto barulho, para quase não eleger nenhum candidato local. Felizmente, elegeu-se um que não fez barulho! Diga-se de passagem, que de nada adiantou a ouvidoria do Tribunal Regional Eleitoral TRE disponibilizar página, receber denúncia sobre o abuso e nada fazer para cobrar respeito. Deu, sim, força ao “deixa pra lá” “denunciar pra que, se nada vai se resolver”, próprio da cultura tupiniquim!

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