Traição sob a máscara da paz

21 de Outubro de 2016
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

O último 2 de outubro trouxe dois fatos de grande significado político para a América Latina. No Brasil, realizaram-se eleições municipais em todo o país. Embora, nem arranhe o corrompido sistema político-partidário vigente, o resultado dessas eleições sinaliza, a quem queira ver, que a sociedade brasileira pede condução deste país a rumo diferente daquele tomado há treze anos. Há um longo caminho a percorrer, considerados os estragos provocados por uma corrente barulhenta, porém minoritária, que programou, a exemplo de outros países na vizinhança, a distorção da função do estado em favor de uma ideologia. No afã de atingir sua meta, o grupo nem hesitou na prática da corrupção que, se teve conotações de ganância pessoal, foi também nitidamente marcada pela participação do partido, a amealhar fundos para seus propósitos de domínio político-ideológico. Como já dito, o resultado não representa as mudanças, que são imperiosas, mas representa a vontade do povo, insatisfeito com a situação, que abalou todos os setores da vida nacional e chegou a desempregar mais de doze milhões de trabalhadores. Por ironia, dois milhões a mais que os empregos anunciados pelo Petralha I, ao assumir seu primeiro mandato.

O resultado das recentes eleições não surpreendeu, pois a grave crise econômica, associada a uma crise política temperada com muita corrupção, parte dela caída nas malhas operação Lava Jato, sinalizavam para a reação popular nas urnas. Por si só, o resultado dessas eleições dá uma sacolejada em toda a América Latina, onde governos de orientação esquerdista tentam enredar o Brasil, líder natural na região por sua geografia e destacada economia.

Entretanto, quis o destino que, no mesmo dia, se realizasse, na Colômbia, o referendo popular que responderia “sim” ou “não” ao chamado acordo de paz, celebrado entre o governo daquele país e o comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia –FARC. Segundo o governo, o acordo poria fim a cinquenta e dois anos de luta armada, no país, devolvendo a tranquilidade aos colombianos, que viram ceifadas cerca de duzentas mil vidas dentre os seus. Devido à longevidade da guerra e tanto sofrimento dela decorrente, cria-se na vitória do “sim”, mas o mundo se surpreendeu com a maioria do “não” nas urnas. A comunidade internacional ficou de “boca aberta”, a perguntar como um povo abjura a paz, depois de cinco décadas de derramamento de sangue. Quem critica o faz, considerando o propalado fim, que seria a paz, ardentemente desejada pelos colombianos. Mas, o “não” foi dado aos meios pelos quais se prometia a paz.

Ninguém fora da Colômbia, nem mesmo o papa, tem o direito de dizer que o “sim” seria melhor, pois somente os colombianos sabem como lhe dói o calo; depois de cinquenta anos em sobressalto pelas ações dos guerrilheiros, associados ao narcotráfico, somente os colombianos sabem o que é melhor e como consegui-lo. A paz, sim, deve vir, mas não mediante o estado colombiano, de cócoras, a conceder o que nenhum cidadão conseguiria fora das urnas, ou seja, lugares no parlamento; pensão em dinheiro a cada guerrilheiro durante dois anos; conversão das FARC em partido político. Teme-se ainda pelo que se mantinha em sigilo, como, por exemplo, a ideologia de gênero, discutida entre o governo e a guerrilha, segundo denúncias em manifestações públicas. Aprovar tais concessões e mais o oculto seria exposição da cara do povo a um tapa humilhante. Enquanto os cidadãos de vida regular trabalhavam, estudavam, pagavam impostos, cumpriam seus deveres de forma a manter o país de pé, os guerrilheiros matavam, destruíam, sequestravam, associavam-se ao narcotráfico, do qual obtinham recursos para suas atividades criminosas. A reboque da luta política, por si só insana em se valendo da violência, os guerrilheiros torturavam e estupravam mulheres sequestradas. Outra de suas crueldades foi transformar o território colombiano em extenso campo minado, fazendo cerca de dez mil vítimas de explosões dessas minas. Garotos de 10 a 14 anos, que deveriam estar na escola, eram por eles recrutados e isolados na selva, para treinamento e incorporação às forças de combate. Em toda a Colômbia, poucas famílias não tiveram vítima da atuação das FARC.

Diante de tudo isso, porque o povo deveria apoiar um acordo, de cuja discussão não participou? Segundo fontes confiáveis nem o referendo teria havido, se não fosse a insistência do governo (ainda bem!) na mesa de negociações. Por outro lado, tais concessões seriam perigoso precedente, considerando que outros grupos guerrilheiros, ativos e fora do acordo, poderiam reivindicar o mesmo tratamento. Os colombianos desejam a paz, não mais humilhações: desejam tranquilidade, não mais imposições; desejam ser uma nação respeitada, não um campo de experiências de cunho ideológico.

Vencesse o “sim”, o único laureado seria o presidente, convenientemente escolhido para o Prêmio Nobel da Paz. Mas os colombianos enxergaram o que o resto do mundo não quis ver! Congratulações ao nobre povo colombiano!

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