Os arranjos políticos e a fragilidade dos partidos

03 de Julho de 2014
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Os arranjos e realinhamentos dos partidos políticos no Brasil, tendo em vista a eleição presidencial e as estaduais mostram claramente a sua fragilidade ideológica ou programática. São conchavos que acomodam interesses, simplesmente isto, sem qualquer compromisso com programas. Então, mais uma vez, os partidos políticos no Brasil dão um exemplo cabal de que são meros trampolins para negociações e negociatas, visando à perpetuação no poder, sem qualquer respeito ao pensamento político ou doutrinário, que seria sua razão de ser e que é essencial às suas atividades. Na verdade, os últimos fatos comprovam que a política brasileira é hoje uma salada de interesses, em que prevalecem o carreirismo, o fisiologismo, os ajeitamentos, mesmo os mais contraditórios e surpreendentes, tirando da vida política qualquer seriedade ou credibilidade.

Vejamos o PSB, que usa o nome do Socialismo, mas que, por seus integrantes e por sua conduta, nada tem com esta doutrina, antiga e com características humanistas que poderiam em muito servir à vida pública no Brasil, com seus ideais de justiça social, fraternidade e solidariedade. Eduardo Campos, seu presidente, e Marina Silva, sua aliada, tem posições diferentes e em cada Estado alinham-se conforme interesses locais, sempre oportunistas. Em Minas, deixará de ter candidato para apoiar o PSDB que, doutrinariamente, por seu conservadorismo, é a antítese de sua doutrina, sempre esquecida. O PMDB, aliado do PT, que dá o vice, Michel Temer na chapa de Dilma Rousseff, diverge em vários Estados, especialmente no Rio, onde o governador Pezão e o ex-governador Cabral anunciam apoio a Aécio Neves por simples acomodação partidária, esquecendo qualquer compromisso partidário. Como é do seu estilo, o PMDB, após garantir a vice na chapa do PT para a Presidência, liberou seus quadros para tomar quaisquer posições nos Estados.

E o PSD de Gilberto Kassab? Sem doutrina, sem posicionamento político, é partido de aluguel, adere a quem oferece alguma vantagem, cargos, nomeações, negócios. É uma simples aglomeração de políticos sem qualquer posição ou pensamento, à venda. E assim, assume as posições mais contraditórias, conforme os ajustamentos locais ou regionais. O PTB, que nada tem mais com o partido antigo, criado por Getúlio Vargas em 1943 para representar o trabalhismo, e que foi desvirtuado por Ivete Vargas, é hoje outra sigla de negócios. Nada lhe resta do antigo trabalhismo. Coloca-se no balcão de negócios e ajustes. Aqui e acolá, se acomoda e acaba de deixar o apoio a Dilma para aderir ao PSDB. O PP, que abriga o governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, fiel escudeiro de Aécio, apoiará nacionalmente a Dilma Rousseff. E assim por diante são muitos os exemplos que vão desfigurando a vida política e partidária brasileira.

Temos, registrados no Tribunal Superior Eleitoral, 37 partidos, outro exemplo cabal de que são meras agremiações sem substância política. No Congresso, convivem 27 partidos, a grande totalidade com dois ou três parlamentares, em geral eleitos por igrejas, movimentos e categorias sociais que, a rigor, pouco teriam a ver com a vida política, sendo, portanto, representantes de interesses, buscando uma fatia do poder. Decorre daí o fisiologismo do Congresso, onde a composição de maiorias para votação de projetos, mesmo os mais importantes, sempre depende de favores governamentais. É o que explica o fato de o Governo Federal ter hoje 39 Ministérios.

E o eleitor? Verifica-se que não é mais possível o voto ideológico, por posições doutrinárias, o que deveria ser a origem e razão das agremiações políticas. Com esta descaracterização, o eleitor fica sem o que seria sua principal orientação para a escolha. Retornamos à política pela política, ou seja, os partidos são meros meios de acesso ao poder, o que explica o grande número de candidatos e eleitos sem qualificação de qualquer natureza, a não ser o oportunismo. É claro que tais pessoas querem lucro, querem locupletar-se com o dinheiro e o patrimônio público, já que estão na política sem idealismo, sem motivação ideológica. Esta é a triste realidade da política brasileira, de difícil remoção, já que o Congresso, dominado por este tipo de pessoas, nada fará para mudar este quadro, como temos visto. A reforma política, tão necessária, é mero exercício futurológico. E, ao eleitor, aprofunda-se a dúvida: afinal, em quem votar?

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