Ouro Preto enfrenta falta de água generalizada durante a semana, soluções definitivas parecem distantes

05 de Novembro de 2013
Jornal O Liberal

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Paulo Felipe Noronha

Os moradores de Ouro Preto viveram na semana que passou mais um período de desabastecimento. Quem buscava explicações junto à própria população ou ao atendimento do Semae, recebia razões múltiplas para a falta de água: baixo nível do reservatório (devido à seca) desvio de abastecimento de determinadas áreas para abastecimento em outras mais afetadas, manutenção realizada pela Cemig em bomba do reservatório no Funil (essa na região dos distritos) tudo entremeado por recomendações de economia de água. E mesmo aqueles que torciam pela chuva que amenizasse a situação, não tinham grande alento, já que chuvas também são responsáveis por faltas de água contumazes, turvando a água, entupindo ou quebrando redes de distribuição.

O que é certo, é que tanto a região central da sede quanto os bairro mais afastados sofreram ou ainda sofrem com a diminuição e paralisação do abastecimento, bem como os distritos. Novamente, a Rua Professor Francisco Pignataro, na Bauxita, teve casas que ficaram sem água desde sexta-feira. Algumas, se encontravam sem água até quinta-feira (31/10) quase alcançando a marca de uma semana desabastecidas.

A situação peculiar de Ouro Preto, que recebe milhares de turistas mensalmente, que conta com uma universidade federal recentemente expandida com aproximadamente 15 mil estudantes (a maioria concentrada no município) e que vive um boom imobiliário e especulativo, gerado justamente por essa migração de estudantes, mas também por trabalhadores relacionados à mineração, colocam a cidade e seu sistema de abastecimento de água sob gigantesco stress. Para agravar o problema, a condição de Ouro Preto como cidade histórica, com sistema de distribuição antiquado; uma cultura irresponsavelmente alimentada, contrária a cobrança de água; topografia acidentada, que dificulta e encarece (devido ao gasto com energia para bombeamento) a distribuição de água; tudo aponta para a necessidade de observar a questão com mais atenção e coragem, não apenas do poder público, mas também, da população.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) de acordo com dados publicados no jornal Valor, o consumo per capita ideal é de 100 litros de água por dia. O mesmo jornal informa que ONG voltada ao consumo consciente tem que a média brasileira de consumo saltou de 149,5 para 159 litros por dia nos últimos anos. O campeão brasileiro em consumo é o estado do Rio de Janeiro, com 236,1 litros. Dados extra-oficiais fornecidos pelo Semae dão conta de que em Ouro Preto, o gasto atinge inacreditáveis 400 litros per capita de água por dia.

Entretanto, esse valor é estipulado tendo por base o consumo global da cidade. A ausência de hidrômetros que meçam a utilização de água caso a caso podem mascarar a realidade. É impossível saber quanto da água no município realmente é gasto pelas famílias, ou pela rede hoteleira, comércio e indústrias instaladas na cidade. Sem esses dados, não dá para dizer de quanto realmente cabe a cada um de responsabilidade por esse consumo. É inegável também que a não cobrança da água cria uma cultura de consumo irresponsável, afetando, principalmente, as comunidades menos abastadas, que moram em regiões mais altas da cidade. Mas aos poucos isso vem afetando indistintamente de estrata social.

Por fim, a cobrança de água se configura numa decisão não apenas administrativa e técnica, mas também, política. É inevitável para a classe política citadina, acostumada a explorar o fato, ignorar os danos políticos que poderiam ser causados por enfrentar a questão da cobrança de frente. Mas se torna cada vez mais necessário encarar a questão com bravura. Um exemplo do absurdo retórico que transpassa em períodos eleitorais se dá nas constantes difamações a candidatos, largamente ocorridas em eleições prévias, com ameaças de que a Copasa seria introduzida em Ouro Preto, ou que o candidato tal iria cobrar pela água. Mas a verdade é que, se fosse esse mesmo o projeto político-administrativo de candidato a ou b, deveria ser encarado como algo positivo e receber palmas da população, face a situação desregulada que a omissão quanto à água custou, custa e ainda vai custar para Ouro Preto. O problema da água em Ouro Preto já é crônico.

Por isso, É PRECISO HIDROMETRAR, E TAMBÉM É PRECISO COBRAR. Chega de irresponsabilidade. Como é possível gerir o recurso hídrico sem mensurar seu consumo e cobrar proporcionalmente? Para aqueles sem condições de pagar pela água, que sejam criados programas de diminuição de taxas, ou até mesmo de isenção, mas não é possível que a situação continue como está. Ninguém espera receber energia elétrica gratuitamente em casa, por exemplo. Ainda que a água seja um bem natural, é um bem escasso. Seu tratamento gasta produtos químicos, estações, novas tecnologias. Seu bombeamento gasta energia elétrica. Sua distribuição exige redes que precisam de manutenção constante. Enfim, seu consumo exige responsabilidade. Água tem valor. E tudo que tem valor, tem preço.

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