Ouro Preto: Mineração e Turismo – visões para o futuro

26 de Agosto de 2013
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Rodolfo Koeppel*

A mineração hoje é uma fonte muito importante de renda e emprego para toda a nossa região. Ela modifica a superfície e o subsolo, com a vantagem de estar nas Minas Gerais e ser abundante e de muitos tipos, mas, e este é um grande “mas”, como se dizia há muitos anos: “minério não dá duas safras”.

O turismo e a história de nossa região, pelos padrões mundiais, apenas arranha a superfície. Está tudo por fazer. Mas tem o potencial para gerar mais emprego e mais renda do que a mineração. Sem nunca acabar. Ao contrário, crescer a cada dia, para sempre. Mas, também tem um grande “mas”: tem que ser construído envolvendo muita gente. Senão, vejamos:

A mineração é gerida por grandes e poucas empresas. Todas elas com consciência comunitária e que nos ajudam muito. Sem elas, hoje a vida em Ouro Preto seria muito mais difícil. O turismo é (mal?) gerido por milhares de pessoas e empresas, que formam uma enorme cadeia produtiva. Claro que o relacionamento de cooperação e de organização é totalmente diferente, em cada caso.

A negociação com as grandes empresas exige muito tato político, poder centralizado. Já a necessária cooperação para levar o turismo ao sucesso exige um trabalho de colméia de abelhas, para que, com o trabalho de milhares, se produza um bom mel. Para sempre. O mel que todos querem. É necessária uma postura de relacionamento interpessoal muito intensa. E nisto, em Ouro Preto, ainda temos muitas léguas a serem trilhadas. O que acontece na cidade de Tiradentes pode ser um bom referencial.

Finalmente, como uma herança maldita da época do ouro, somos todos, meio ou inteiramente, “gaveteiros”. A fome em Ouro Preto era trágica. A “Grande Fome de 1701” ficou marcada. Milhares de pessoas, com muito ouro no bolso. Mas sem comida. Com o ouro abundante, quem plantaria batatas? Mas ouro não se come e as pessoas passaram e passam fome. Todo dia.

Por isto, por razões de sobrevivência num momento histórico, escondíamos os quitutes, que só Minas sabe fazer, nas famosas “gavetas das mesas sólidas das Minas Gerais”. Jamais se falava, na época do ouro abundante, onde escondíamos o ouro. Seria muito arriscado... Daí vamos ao extremo, tão bem resumido por Carlos Drummond de Andrade: “Os mineiros não dizem, nem para si mesmos, o segredo da palavra Minas...” ou a trágica frase de Oto Lara Resende: “O mineiro só é solidário no câncer”. Que horror!

Um arranjo produtivo local (também conhecido como APL ou Cluster) é a organização de uma área geográfica – ou seja, todos distritos de Ouro Preto e não apenas onde há jazidas de minérios – onde os diversos atores – guias de turismo, donos de hotéis, restaurantes, artistas, publicitários, varredores de rua, choferes de táxi, artesãos, políticos, jovens, idosos, homens e mulheres, ou seja, todo mundo – cooperam e procuram se ajudar mutuamente. O sucesso de um deve ser a fonte de alegria para todos. Nunca de inveja. Se não, numa expressão antiga, que meu pai usava, “a porca torce o rabo”.

Existe uma expressão típica num APL – Cooperar para competir! Se não cooperamos vamos nos lascar, todos juntos... E cooperação é algo que pode e precisa ser aprendido – vide como cooperam os músicos de uma banda de música. Uma coisa que todos nós apreciamos: jovens e idosos, todos e cada um fazendo a sua parte, sincronizados, em harmonia, sabendo conviver. E o produto final é aquela beleza! Todos são importantes, ninguém é único. Acho que devemos incentivar mais bandas de música. É muito legal... É bonito... É educacional... É lúdico...

Se não tivermos este objetivo, não competiremos com outros locais, que tem também características humanas, históricas e naturais tão boas ou melhores do que as nossas. E a demanda irá para lá. Lá, onde são mais bem atendidos. Lá, onde há mais coisas para divertir e agradar ao visitante. Lá, onde há mais informações. Lá, enfim, onde há mais organização. Mas nós não moramos lá. Nós moramos aqui. E queremos ser felizes aqui.

*Rodolfo Koeppel é eleitor em Ouro Preto e morador em Glaura. Com quase 70 anos, sempre veio a Ouro Preto com seu pai, quando as estradas ainda eram de terra. Escalou o Itacolomi pela primeira vez em 1964. Desde 1971 teve oportunidade de trabalhar em Ouro Preto, em frentes diversas. Instalou o primeiro computador na UFOP, já trabalhou com os artesãos em pedra sabão de Ouro Preto, Mariana e Catas Altas da Noruega e foi diretor do IER – Instituto Estrada Real, em seus primeiros momentos de sonho (1998-2003). Há 10 anos promove o Glaura Musical, evento cultural / gastronômico / musical.

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