Perigos concretos no virtual

13 de Janeiro de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

No reino da eletro/informática vive-se em ritmo acelerado, cada conquista a superar o estágio anterior, de forma tão rápida, que mal se assimila um ponto e outro já se apresenta a desafiar intelectos, habilidades e curiosidades. Considere-se, por exemplo, o estágio atual da internet, aberta ao público brasileiro há não mais que vinte e um anos. Entretanto, o estágio alcançado nesse período sugere seu surgimento em ponto bem anterior na linha do tempo.

A princípio, acessada por pequena minoria, mediante computadores ainda incipientes, de poucos recursos, ligados entre si por poucos provedores, a internet alcançou o estágio da banda larga, em alta velocidade, sem jogo de palavras. O número de conectados em território nacional ultrapassa a faixa dos cinquenta por cento, surpreendendo os menos otimistas que projetavam tempo mais longo para que ela também se tornasse veículo de comunicação de massa. Em 1999, conexão à internet em Cachoeira do Campo era um “luxo”, reservado mais a curiosos e aventureiros, ávidos por novidades. Ainda era discada, e, é bom lembrar que contato telefônico com o outro lado do morro ou além-córrego demandava ligação interurbana, o que tornava a conexão difícil e mais cara do que já era o telefone de então. Lenta como a tartaruga, a conexão via Belo Horizonte era a porta mais próxima, para quem se aventurava a trilhar os caminhos da web. Para ter a conta telefônica menos salgada, havia que aguardar a noite (depois da 22h00) e sábado (a partir das 14h00) até segunda-feira às (6h00), quando as ligações eram mais baratas. A navegação, muitas vezes, era proibitiva devido à lentidão mais acentuada, em grande parte dos sites, aparentemente os mais atrativos; isso gerava grande frustração.

Bastante tempo se passou até que um provedor de Belo Horizonte implantasse linha própria em Ouro Preto, tornando a conexão de seus assinantes um pouco mais barata, embora ainda interurbana. Outro bom tempo houve que ser esperado para se ter o provedor local; finalmente a acessibilidade mais rápida e livre dos pulsos telefônicos, acrescida a vantagem de se ter o dono do serviço cara a cara, quando necessário.

Com esse empreendimento a internet entrava na vida da população local; oportunidade à qual se agarraram provedores alienígenas, para assediar a mesma população, até então não ouvida por eles. Abrir o caminho, não quiseram!

Bem, aquela curiosidade inicial virou necessidade e faz parte da maioria da população, em ambiente doméstico, no trabalho e em qualquer lugar, a partir de um dispositivo móvel. A novidade agora fica por conta da oportunidade de trabalho, que aquela primitiva curiosidade oferece e uma minoria de visão expandida nela embarca, enquanto o restante se perde nos mexericos, acusações, injúrias e outras ações deletérias, que se tornam comuns nas redes sociais, o grande subproduto da rede mundial de computadores. Isso não quer dizer que elas sejam o lado mau da internet, porque servem também ao bem, às atividades produtivas, porém mais abertas a práticas antissociais, ao contrário do que diz a categoria dessas redes. Golpes, antes praticados via e-mail pessoal, têm migrado para as redes sociais, talvez por as verem os autores menos retráteis às suas mirabolantes “propostas”.

Em assim sendo, foi por meio do facebook que internauta se viu assediado por alguém sob a pele de bela e bem sucedida mulher, na faixa dos cinquenta anos. Pelos primeiros contatos sugeria-se uma relação de amizade, quiçá a evoluir para o campo amoroso. Todavia, um detalhe gritava por atenção mais cuidadosa em relação àquele súbito interesse pela figura daquele simples mortal: a mulher, embora já aposentada, ostentava insígnias douradas de alta patente da Força Aérea dos Estados Unidos, na função de comandante de importante unidade estratégica, naquela estrutura militar.

Por que uma norte-americana com aquelas qualificações se interessaria por aventuras na internet? Tendo ocupado tão alta posição na hierarquia militar da nação mais poderosa do mundo, era certo que se lhe impunham resguardos e discrição, não lhe sendo recomendada descuidada exposição ao público. Algo mais deveria estar por trás daquele ataque de cordialidades. Depois de alguns contatos, “ela” manifestou interesse por fazer investimentos no Brasil, revelando ter sido ele eleito intermediário. Começava a pintar o verdadeiro interesse naquela jogada! O internauta “deu corda” e “ela” então propôs entregar-lhe maleta com vultosa importância, por intermédio de um enviado que com ele se encontraria, em segredo, no aeroporto internacional de Guarulhos. Mas, antes da entrega, ele, o internauta, deveria pagar determinada importância, que seria o custo da viagem do enviado e mais algumas despesas. “Tava” na cara que era, mais ou menos, o conto do bilhete premiado, só que em estilo internacional.

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