Tênue luz na escuridão

20 de Abril de 2017
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Ao indivíduo, quando lhe sobra um restinho de juízo, a atitude mais conveniente é dar nova guinada à vida diante da aceitação do desastre em que tenha se metido, por consequência de comportamento desregrado a comprometer-lhe a saúde, capacidade produtiva, imagem pública e autoestima. Primeiro é preciso o reconhecimento da própria situação e aceitar o tratamento indicado. Em seguida deve decidir por novo rumo, partir para outra, conforme se diz, pois, ao contrário, todos os esforços podem redundar em fracasso. Sepulta-se o passado e tudo deve recomeçar a partir de novo marco.

Pois bem, o Brasil passa por situação similar: no fundo do poço, bêbado e intoxicado pela má política, praticada por políticos irresponsáveis. A única coisa boa, vislumbrada em meio a esse quadro de horrores, desnudado pela operação Lava Jato, é que a sociedade parece estar consciente da situação, faltando-lhe, no entanto, atitude a ser tomada, para que se inicie a reversão do infausto processo de deterioração nacional. O corpo do país é robusto, tem forças suficientes para se manter de pé e avançar, porém lhe falta comando do cérebro, narcotizado e incapaz de coordenar todo o organismo.

Cabe à sociedade levantar-se e cobrar do Poder Legislativo a oportunidade de se manifestar e sugerir outro caminho a ser tomado. Se deixada a iniciativa por conta dos políticos, nada acontecerá, nada mudará, se não para proveito deles próprios, conforme se prenuncia a partir de proposta já em foco nas discussões preliminares. Deles nada se pode esperar se não o pior! Muito antes que estourasse o Mensalão e, depois, o escândalo da Petrobrás, por intermédio da Lava Jato, já vinha denunciando, neste espaço, que a estrutura político-partidária brasileira estava podre e que nada dela se aproveitava. Fala-se em reforma política, como há muito, mas, não há o que reformar; reforma-se quando sobra algo aproveitável. No caso brasileiro, está tudo comprometido, a requerer descarte definitivo e substituição do sistema por outro, atualizado, mais justo e coerente com os princípios democráticos.

Do tempo em que se remendava roupa por imperiosa necessidade econômica, lembro-me de um trabalhador cuja camisa, depois de muito usada em trânsito pelo mato, em travessia de cercas e outros obstáculos, era uma coleção de remendos de todas as cores e tamanhos. Do tecido original sobrara apenas pequeno quadrado nas costas. Chegou o momento em que, embora ainda lhe servisse para cobrir o tórax, ela teve de ser descartada e substituída por outra mais condizente com a finalidade. É hora de trocar a camisa, originalmente verde e amarela, do Brasil por outra, nas mesmas cores, de tecido mais forte, resistente às intempéries representadas pela malandragem e corrupção dos políticos e seus asseclas dentro da sociedade civil; da velha camisa, que tudo se lance ao lixo! Entre as malandragens inclui-se esta de substituir o voto individual, ou seja, diretamente no candidato, pela lista fechada, que pode abrigar cobras e lagartos, a critério dos caciques partidários. É a substituição do intragável “prato feito” pelo malfadado “enlatado”. Que sina do eleitor brasileiro, hein?

Todavia, como já dito, a sociedade mantém-se vigilante e, do seu seio, por intermédio de três advogados, surge a proposta de referendum popular, no qual se consultaria o eleitorado sobre a natureza de eventual constituinte: se Assembleia Constituinte independente, formada por pessoas que não tenham cargos políticos, ou, por Assembleia Constituinte formada pelos próprios congressistas. Trata-se, como se vê, de proposição democrática, pela qual caberia ao eleitorado decidir sua natureza, critério não observado na última Constituinte, o que permitiu aos políticos fazer o que fizeram: uma Constituição ultrapassada no nascedouro.

Desde já, deste espaço, parte apoio incondicional a uma Assembleia Constituinte, de natureza independente, a ser formada por juristas, magistrados e outros(as) cidadãos(ãs) de notório saber, sem compromisso com quaisquer correntes políticas. Se possível, que se mantenham os políticos isolados da Assembleia, evitando assim que esta se contamine com as diatribes daqueles. É claro que isso é um exagero, uma brincadeira, mais para reforçar a posição de total apoio à independência de eventual Assembleia Constituinte. Não creio haver proposição melhor e mais democrática do que esta, ou seja, uma consulta direta ao eleitorado para que este defina como deve ser formada a Assembleia, à qual caberá a missão de redigir nova Constituição. Bem vinda a ideia de uma Assembleia Constituinte independente!

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