Reflexões que o povo brasileiro deve fazer V

06 de Julho de 2018
Nylton Gomes Batista

Nylton Gomes Batista

Melhor ficar em paz com a própria consciência, votando nulo contra o sistema corrupto ou por não encontrar candidato condizente, ainda que lhe lancem à face qualificativos negativos, tais como “cidadão sem caráter”, “sem compromisso com a coletividade e o país”, etc. Pior é o arrependimento pelo voto dado a algum pilantra, tendo que ouvir a crítica recorrente de que “brasileiro não sabe votar”; e ainda concordar com ela, esquecendo-se de que, na verdade, a escolha primária não lhe coube, porém ao esquema partidário. Ele, o eleitor, votou induzido pelo esquema, que lhe apresentou algumas opções, nascidas, sabe-se lá de que forma, talvez por alguma razão oculta e contrária aos interesses do bem comum. Mas, se a lama vem à superfície, o eleitor é apontado como sua causa; e mais uma vez, ele concorda, assumindo o erro, que não é dele, mas do sistema. Passam-se os anos e a coisa continua do mesmo jeito, embora todos reclamem, à boca miúda e entre si.

O que se passa no âmbito do processo eleitoral, no que cabe ao eleitor, é a repetição de outras situações de violação do direito do cidadão, por consentimento ou omissão deste, que prefere não sair de sua zona de conforto, porque “reclamar ou apontar (de fato) o erro não fica bem”, “vamos deixar como está para ver como fica”, “não quero me envolver”. Entre os tupiniquins, os problemas coletivos são muito discutidos, mas na hora do “pega pra capá” todo mundo tira o dele da reta. É como naquela fábula em que ratos, reunidos em assembleia, buscavam uma forma de escapar da ação do gato, que rondava na vizinhança e os impedia de alcançar o queijo sobre a mesa. Várias propostas apresentadas não obtiveram o consenso dos ratos, e, a reunião já se encerrava sem qualquer solução, quando um camundongo com ares de sabichão sugeriu a colocação de um sininho no pescoço do gato. Quando este se movimentasse, ouvir-se-ia o sininho, denunciando sua posição, se próximo ou distante do local, o que daria oportunidade aos ratos de agir conforme seus interesses. A proposta foi aceita com uma salva de palmas. Abriu-se então oportunidade para o voluntário ou voluntários, aos quais caberia a tarefa de ajustar o guizo no pescoço do bichano. Diante disso, cada qual encolheu seu rabo e tratou de sair de fininho, esvaziando o local. E o gato continuou a mandar no pedaço! Esse é um dos problemas do brasileiro: muita fala e pouca ação!

Na relação entre povo e poder, a coisa é mais complicada. Quem sobe num tijolo pensa que domina o mundo; quem está abaixo se sente o último dos seres. Há algum exagero, mas é, mais ou menos, este o quadro desenhado. É da cultura brasileira. Cidadão com algum poder se sente com direito de espezinhar, manipular e jogar com a sorte dos que dele dependem em alguma solução; por outro lado, o que não tem poder pensa não ser correto contestar e aceita a situação. Resumindo: quem tem poder, manda e desmanda; quem não tem se cala e abaixa a cabeça. É o mandonismo e a subserviência!

Certa vez estive entre esses dois extremos. Fui chamado por autoridade para uma conversa na qual estaria em jogo um direito de pequeno grupo de pessoas. Conversa implica em diálogo, no qual duas ou mais pessoas expõem suas opiniões, podendo ou não ser tomada uma decisão. Naquele caso, constatei não ter sido chamado para conversa, mas para receber uma intimação. É claro que refuguei, sem pestanejar. Ouvi as argumentações, nas quais teria se baseado aquela decisão autoritária, refutando-as todas como carentes de força, para solucionar o problema daquela forma, mesmo porque havia outras soluções. Ao constatar que eu não recuaria, apresentou algumas propostas, por mim consideradas desfavoráveis, até que, finalmente, fez uma que achei razoável. Ao lhe perguntar qual garantia teria, ele respondeu que dava sua palavra. Disse-lhe então que a queria firmada em documento. Do alto de sua prepotência, gritou: “está duvidando da minha palavra”? – ao que contra-ataquei: não se trata de duvidar de sua palavra; é que como autoridade, sua palavra só tem valor mediante documento oficial – e acrescentei – o senhor não sabe se estará vivo daqui a cinco minutos.

A coisa azedou de vez, pois, para ele, era muita petulância alguém do povo questioná-lo. Ao sair daquele encontro desencontrado, a pessoa que me acompanhava expressou sua preocupação: – você não podia contrariar o homem; ele podia mandar prendê-lo. O episódio retrata bem os dois extremos, no relacionamento do poder com o povo. Posteriormente, encontrou-se solução favorável com garantia documentada, portanto, sem quebra do direito do grupo.

PARTIDOS POLÍTICOS JÁ FIZERAM MAL DEMAIS À HUMANIDADE!

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