Riscos de desabamentos ainda são muitos em OP

22 de Março de 2012
Jornal O Liberal

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Mauro Werkema

Com a exposição de duas imagens comparativas, mostrando as ocupações das encostas de Ouro Preto em 2001 e em 2012, o professor Romero César Gomes, geólogo da Escola de Minas, revelou todo o angustiante e grave problema dos riscos de escorregamento de terras. E afirmou, em sua palestra na Câmara de Vereadores, que existem perto de uma centena de locais em risco, todos eles visitados por pesquisadores, alunos de Geologia e devidamente estudados e catalogados. Em resumo: já é bem conhecida toda a geologia de Ouro Preto. O que falta são ações de engenharia, preventivas, uma vez que é plenamente possível saber, com boa antecedência, o que vai acontecer. E é preciso evitar novas ocupações perigosas.

A palestra, extremamente oportuna e importante, precisa ser repetida para todos os segmentos de maneira a criar consciência da singularidade de Ouro Preto, surgida na corrida pelo ouro em terreno inadequado para se implantar uma cidade, inóspito, íngreme, geologicamente instável, dificultando a construção do tecido urbano. E, com a falta de áreas de expansão, exprimida entre a Serra do Ouro Preto e a do Itacolomi, a população sobe os morros, constrói desordenadamente, interrompe cursos d’água, descalça encostas, fragiliza a terra, entope escoamentos naturais com seu lixo e entulho. O que constrói em cima ameaça o de baixo.

O professor Romero, com clareza, explica que dois riscos, em constante ocorrência, são causas dos desabamentos: a água e a ocupação humana desordenada, que violenta o ordenamento natural hidrológico determinado pela natureza. E, se é difícil mudar esta realidade, que tem raiz na questão social, na pobreza e na falta de meios para moradias mais seguras, como também é mais difícil ainda mudar comunidades inteiras, multiplicam-se as áreas de vulnerabilidade. Agrava-se a questão quando são estas populações que impedem a realização de intervenção preventiva, com obras de contenção. O ciclo, portanto, é perverso e quando mais avança a ocupação irregular maior é o risco e mais próximo.

Afirma Romero que há ocupações de risco em áreas onde a busca do ouro já alterou os terrenos, há dois séculos. Túneis, sarilhos, alterações de condutos d’água existem em vários locais. Explica que o Corpo de Bombeiros tem atendido, cada vez mais, chamados de pequenos acidentes de escorregamento ou para elaborar laudos de risco. Os alunos de geologia, sob sua orientação e de outros professores, têm examinado estes laudos e cada vez mais se preocupam com várias situações, registradas nas Cartas Geotécnicas comparativas. Impressiona o avanço das manchas representadas pelas áreas de risco, com destaque para o Taquaral que, segundo o professor, é hoje onde se apresenta a situação mais grave, com indicação de remoção de moradores.

Revelou que os estudos apontam um ciclo hidrológico de mais ou menos dez anos para ocorrência de grandes chuvas: assim aconteceu em 1979, em 89, em 97 e agora em 2012. E certamente voltará a ocorrer no futuro. E, infelizmente, os governos só se despertam quando ocorreram os grandes acidentes, como ocorreu agora com a área da Rodoviária. Deveria já ter se despertado quando ocorreu a inundação da Água Limpa e do Rosário, em decorrência de aterro mal feito. A natureza cobra, é questão de tempo, pois obedece a leis naturais, físicas e químicas, que podem ser perfeitamente ser previstas.

Romero está propondo um Serviço Geotécnico para Ouro Preto, em parceria com a UFOP e outras instituições, de maneira a se ter um acompanhamento constante de áreas de risco, com indicação de intervenções preventivas. Seus argumentos são bastante convincentes e não há mais como adiar esta providência, já levada à Prefeitura e aos Governos Federal e Estadual. Como ele enfatiza, as áreas de risco, a geologia de Ouro Preto, as encostas em instabilidade, já são bastante conhecidas. Falta ação concreta de engenharia e ampliação das ações que possam evitar novas ocupações em áreas perigosas. É hora de evitar o agravamento deste quadro.

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