Seguidor

18 de Novembro de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

Em meio a uma discussão política, uma parte disse à outra: “não tem como conversar com você, você não é partidário, é seguidor”. Embora eu já tivesse saído da conversa, desde que ela deixou de ser conversa para virar briga, a frase chamou a minha atenção. Nem vou, nesta crônica, explicitar qual era o partido em questão, isto é o de menos. O interessante da observação é como, de uns tempos para cá, tantas pessoas passaram a ser “seguidoras”, de um e de outro. Não acontece só de um lado. Nos dois extremos do radicalismo, eles existem, e são muitos, talvez, até, maioria.

Segundo o dicionário, as palavras são sinônimas, mas a intenção da observação foi outra. A pessoa disse “seguidor” no sentido de que o amigo defendia aquele a quem segue, independente das atitudes dele. Pessoas que escolhem “alguém” para seguir politicamente, e não as idéias ou atos deste alguém. Foi fulano que fez? Não importa o que foi feito, é o correto. E, na sequencia, vem o oposto: foi sicrano? Também não importa, está errado.

Temos visto muito isto, e nestes casos é melhor não discutir mesmo. Gera desgaste, inimizades, raiva, e ninguém convence ninguém, porque o seguidor já está com sua idéia pré-concebida, ainda que nem saiba qual o assunto. Ele já sabe de antemão se é contra ou a favor, antes mesmo de saber do que se trata. Isto impede qualquer tipo de argumentação. Não se argumenta sobre o que já está definido. Aí vem a pergunta: o que o fez definir? O que leva um ser humano provido de inteligência e capacidade de discernimento a se posicionar contra ou a favor de uma decisão que ainda nem foi tomada, baseado em quem vai tomá-la?

Somos pessoas diferentes e não só podemos como devemos ter ideologias e crenças diferentes. Quão sem sentido seria um mundo onde todos fossem iguais! Mas, por mais diversas que sejam as opiniões, temos todos obrigação de, no mínimo, respeitarmos nosso semelhante. Para os seguidores, o desrespeito maior vem do próprio ser objeto de seu fanatismo. Não culpo os seguidores, em muitos casos pessoas bem intencionadas, usadas por outro, ou outros, ou grupos, que sabem muito bem como se aproveitar dos incautos. Os verdadeiros culpados desta crescente lavagem cerebral, seja de que lado for, são os que ficam nos bastidores, com suas promessas de Novo Mundo.

São diferentes os tipos de seguidores, de ambos os lados. Alguns o são por ignorância, outros por carência, outros bem intencionados, acreditando, e, claro, não faltam também os interesseiros. O seguidor não questiona. Acompanha cegamente e apóia, independente do que seja. Ele vê a pessoa e não seus atos e, como para ele, a pessoa é perfeita, seus atos serão sempre corretos. Realmente, não há como discutir com pessoas assim. Coitadas.

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