Tempo

25 de Novembro de 2016
Valdete Braga

Valdete Braga

Assusto-me quando reencontro um ex-colega do segundo grau e ele está quase careca. Assusto-me quando o meu galã preferido da TV é o pai do personagem principal da novela. Ontem, o garçom do restaurante me chamou de “senhora”. Que susto!

O meu amigo me disse: “- Que bobagem, você ainda é tão jovem!”

Descontando o “tão”, eu faço parte de uma geração privilegiada. A minha mãe, na minha idade, era uma senhora circunspecta. A minha avó, uma velha.

Eu faço parte da geração onde “a vida começa aos quarenta” e tem como divas Vera Fisher e Madonna, aos cinqüenta prá sessenta. Mas o tempo não pára de passar, e isso assusta. Não me envergonho de dizer que tenho medo de envelhecer.

Meu amigo volta à carga: “a única forma de não envelhecer é morrer jovem.” Eu também não quero morrer. Não quero nunca ter oitenta anos, mas não quero morrer aos setenta e nove. E aí? Como fico, nessa encruzilhada?

Ah, tempo... coisinha mais chata. Na verdade, não é a idade, em si, mas a proximidade do “fim”, que apavora a qualquer um. As pessoas politicamente corretas falam sobre a beleza da maturidade, a internet está cheia de textos sobre o encantamento do envelhecer, etc e tal. Tudo mentira! Na hora H, quando a gente vê o tempo passando e a hora mais próxima, dá o maior medo!

Não sou velha, ainda. Mas já passei da fase em que era imortal. Aos vinte, todos nós somos. Se perguntarmos a um adolescente sobre o seu futuro, ele vai dizer que está tão longe... e, se o futuro está assim distante, o que dizer então do final... mesmo totalmente consciente de que o fim não existe, a mudança assusta. O novo sempre assusta. E nesses momentos de reflexão sobre esse “novo” é que tomamos consciência de como somos tolos, meu Deus! Como podemos passar uma existência inteira apegados a coisas tão insignificantes, e como podemos valorizar tanto a insignificância!

Bem sei que, teoricamente, ainda tenho um bom tempo. Mas... o que é o tempo? Ficamos aqui, valorizando sofrimento, curtindo dor; sofremos pelo amigo que nos magoa, sofremos pelo dinheiro que não temos, pela casa que poderia ser maior ou pela roupa que poderia ser de grife... ou então subimos em um pedestal bem alto, cheios de poder, dinheiro, fama, e nos agarramos a essas coisas como se elas fossem eternas. Não paramos para pensar que temos vinte anos hoje, cinqüenta amanhã, oitenta depois de amanhã, e depois... não teremos mais nada.

Esse é o grande problema. Nós não paramos, e precisamos parar. Temos de parar, uma hora. E nessa parada, vamos entender que os textos da internet ou as frases politicamente corretas não precisam ser mentiras. Que envelhecer pode, sim, ser uma dádiva. Só que, para isso, precisamos mudar conceitos, antes que seja tarde demais.

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