Tempos difíceis virão

24 de Dezembro de 2014
Jornal O Liberal

Jornal O Liberal

Paulo Felipe Noronha

A queda no preço do minério de ferro é apenas um dentre os vários problemas que irão afetar a economia brasileira, e consequentemente, a vida dos moradores da Região dos Inconfidentes, pelos próximos anos.

Mas para compreender como se deu esse processo, é preciso ligar alguns pontos. O atual presidente da Vale, Murilo Ferreira, teve sua ascensão à liderança da empresa garantida por uma “sutil” interferência de Dilma Rousseff, contrariando a condição da multinacional de privada e independente. Tanto que agora, Ferreira é até cotado para Petrobrás. Felizmente, essa mesma condição da Vale de empresa privada (com alguma participação do governo, como em outras, vide JBS, Cielo, Grupo Globo e o quase falido Grupo X) a salvou, ao menos em parte, de ser saqueada como foi Petrobrás, e ao que tudo indica, como ocorre com BNDES (que possui estreitas relações com as construtoras envolvidas no escândalo da Petrobrás).

Provavelmente tais absurdos também ocorrem com Eletrobrás, que sempre foi pessimamente administrada, jogando suspeição de uso político na gigante energética (e usa-se suspeição aqui pois não há nada de muito massivo contra a empresa, ainda) e que após a política populista de “redução” das contas de luz (paga pelos impostos de todos) afunda cada vez mais em prejuízo bilionário, como várias outras elétricas.

A conexão entre esses acontecimentos, a ingerência nas estatais, e a atual situação de penúria que se prenuncia na Região dos Inconfidentes, pode não ser óbvia, mas existe. A subida do preço da energia elétrica tem relação direta com a política econômica equivocada e alocação inadequada de recursos do governo Dilma Rousseff, e se hoje, a região fica sem quase 400 empregos prematuramente, agradeçam, também, a isso. A mão pesada do governo substitui a mão invisível do mercado, e a contabilidade criativa também cobra seu preço na questão da mineração. Empregos perdidos futuramente podem ser correlacionados à essa política altamente intervencionista e de “campeões nacionais”.

Por fim, quanto de recursos, que poderiam aliviar a situação do brasileiro médio nos tempos vindouros, foi perdido para a corrupção? É incalculável e ao mesmo tempo, é dinheiro queimado, pois se presta servir apenas aos interesses de políticos e empresários desonestos! Dinheiro público em volumes imensos, dos nossos impostos, entregue a escroques travestidos de servidores públicos, e agora, ante o prenúncio de tempos difíceis, é justamente a comunidade, o pequeno, quem vai pagar o pato; com desemprego, queda nos investimentos públicos, cortes, subida descontrolada dos preços, em especial dos alimentos.

Os resultados das privatizações estão aí para quem quiser ver. Na Vale, impediu roubalheira do nível Petrobrás (considerado já o maior escândalo de corrupção da história da humanidade, coincidentemente no ano em que o Brasil sofre sua maior humilhação na história do futebol). Na telefonia, ainda que tenha se formado um oligopólio protecionista entre poucas empresas (Oi, Claro, Tim, Vivo) a privatização garantiu acesso mais democrático à telefonia, basta lembrar a via crucis que era, no passado, adquirir uma simples linha telefônica (“bem” que tinha de ser declarado em imposto de renda).

É hora de a sociedade rediscutir sua posição em relação aos limites do governo, até onde ele pode ir. Há uma frase atribuída ao presidente uruguaio, José Mujica, em que se diz: “há pessoas que adoram dinheiro e se metem na política. Se adora tanto dinheiro que se meta, então, no comércio, na indústria ou que faça o que queira... não é pecado. Mas a política é para servir ao povo!”. Pois bem, que se use a mesma lógica para atividades que visam o lucro, e que o governo não se meta no comércio e na indústria. Que empresas produtivas sejam vigiadas sob a batuta da lei, inclusive e especialmente a trabalhista, mas que sejam administradas por gente talhada pra isso, que irão sofrer as consequências de sua ingerência, e que não se escondam sob o manto da influência de um cargo político. O empresário assume o risco do investimento sabendo que se quebrar, não há socorro para sua incompetência. O político “assume” o risco de empresas como a Petrobrás, mas em caso de quebra, cobra mais impostos (a CPMF pode voltar) ou seja, privatiza o lucro e socializa o prejuízo. Isso não está certo. Discutir a privatização de estatais não é apenas um chamado racional, é também um chamado moral, na atual conjuntura.

Comments powered by Disqus

Newsletter

Acompanhe-nos

Encontre-nos no Facebook