Por bom tempo, até início dos anos 50, Cachoeira do Campo funcionou como polo das obras de abertura da nova estrada, ao abrigar um grande acampamento e ter nos limites do núcleo urbano a construção de duas pontes; pontes que hoje não existiriam, se a estrada tivesse seguido o projeto original.
Máquinas de construção rodoviária só foram empregadas depois ultrapassada a região de Cachoeira. Na época e, especialmente, para quem nunca havia uma máquina do gênero, eram verdadeiros mastodontes feitos de aço. O emprego dessas possantes máquinas deveu-se ao novo governador de Minas, Juscelino Kubitschek de Oliveira, que tomou posse em janeiro de 1951. Tendo energia e transporte (o então chamado binômio) como metas do seu governo, melhor não poderia ele fazer para demonstrar o quanto estava empenhado no cumprimento delas. Coube a máquinas das mais possantes e modernas, nas mãos dos primeiros profissionais da área, o rompimento do trecho final até a cidade de Ouro Preto. Pás, picaretas, carroças, burricos e o árduo trabalho daquela legião de trabalhadores, especializados ou não, foram deixados para trás. Crê-se ter sido o último capítulo da aventura das estradas feitas a mão!
Cabe aqui uma crítica quanto à entrada da estrada em Ouro Preto. Se o pessoal técnico tivesse dado atenção à conformação geológica da cidade, ela não teria entrado por onde entrou vindo seu trecho urbano a ser a Rua Padre Rolim. Estudos mais sérios teriam revelado a instabilidade do solo naquela região, desaconselhando-se, pois, qualquer intervenção junto às encostas. Deveria ter entrado pelo mesmo trajeto que, a partir de 1969, se faz o contorno de Ouro Preto. Teriam sido evitados vários e graves deslizamentos de terra, com sérios prejuízos materiais e perdas de vidas humanas. Está na memória de todos o mais grave deles, que destruiu, parcialmente, o terminal rodoviário, e matou dois profissionais do volante. A cidade não teria perdido também uma de suas relíquias, a Ponte Xavier (estrutura metálica), que se situava nas proximidades do local, onde hoje está localizado o terminal rodoviário. Em 1953, a estrada foi inaugurada, oficialmente, ocasião em que o governador JK, ao passar por Cachoeira do Campo, se viu forçado a descer do carro e se dirigir ao povo, que havia invadido a pista de cascalho. O episódio se deu no corte, que havia logo depois da Praça Coronel Ramos, sentido Belo Horizonte. Posteriormente, o local foi aplainado para dar lugar à praça onde se situa um posto de combustíveis. Parecia ter sido solucionada a ligação rodoviária OP/BH, mas não foi bem assim, pois a estrada ficava intransitável na estação das chuvas, obrigando viajantes a dormir dentro dos veículos, andar a pé no barro a alcançar o meio das canelas e passar fome. A situação calamitosa da estrada durante períodos de chuva constituiu-se em prato feito para os urubus políticos, que não rezavam pela mesma cartilha do governador. A estrada havia, mas fazer uso dela era o problema. Somente alguns anos mais tarde veio a pavimentação asfáltica, concluída em 1961; mesmo assim ainda ocorreram deslizamentos com impedimento da pista, mas, a partir de então, ficou mais fácil mantê-la em operação.
Federalizada a rodovia, a conexão viária de Cachoeira do Campo deixou para trás o tempo das incertezas, quando o simples deslocamento a Ouro Preto era ainda uma aventura. Quase à mesma época deu-se a desativação definitiva da Central do Brasil. Por ironia, a antiga ferrovia, cuja inauguração deu início à decadência econômica de Cachoeira do Campo, ao ser extinta (grave erro entre os muitos que empobrece o país) trouxe alento a uma revitalização com sinais de possível polo comercial regional, a se formar no antigo polo de tropeiros. É o benefício trazido pela rodovia, não se pode contestar! Ela dá mais visibilidade a Cachoeira, facilita o deslocamento para o trabalho em pontos mais afastados sem abrir mão de residir no local, propicia a abertura de negócios, valoriza imóveis, aproxima comunidades e pessoas.
Com a rodovia, Cachoeira saiu do isolamento, mas a população tem pagado preço alto em termos de insegurança ligada aos pontos de interferência com o tráfego urbano de veículos e de pedestres. As autoridades do setor só se preocupam com a pista asfáltica e consequente tráfego, não lhes interessando consequências da interferência em localidades por onde passa. Esse descaso pode ser proposital, porque do conflito entre o tráfego rodoviário e o tráfico local podem resultar multas a encher os cofres. Não é à toa que viaturas se postam, estrategicamente, em pontos urbanos, à espreita de condutores incautos, desconsiderando o fato de que condutores locais, os mais visados, estão em perímetro urbano.
E o serviço de apreensão de animais na pista, por onde anda? A comunidade local quer soluções e não mais tortura psicológica.