Traição de Amigo

09 de Dezembro de 2011
Valdete Braga

Valdete Braga

Hoje eu perdi um amigo. Não, ele não morreu. Pelo contrário, matou um pedacinho de mim. A dor é insuportável, parece que o peito vai se rasgar e o coração pular pra fora. Traição de amigo dói mais que traição de amor. Amor a gente chora uns dias, se descabela, xinga bastante, mas depois aparece outro. Amigo é insubstituível. E quando a gente perde, é porque nunca teve, só não sabia.

Quantos que me lêem agora já passaram por isso ou passarão um dia... é o mal do mundo. As pessoas pisam umas nas outras como se fossem mosquitos. O coração humano se encheu tanto de coisas supérfluas, que não há mais lugar para sentimentos como amizade, caridade, compreensão... o que vale é o externo, o poder, a fama, a ilusão do material.

Dói, dói demais, e a dor se torna física, de tão grande. Acho que quando Deus nos presenteou com as lágrimas, foi para que elas nos lavassem primeiro por dentro, porque existem certas dores na vida que se não forem lavadas por lágrimas nos enlouquecem ou nos matam. Assusto-me quando me olho no espelho. Não me reconheço, o rosto está inchado, os olhos minúsculos. Aí choro mais ainda e o rosto fica mais inchado e os olhos ainda menores.

É voz comum, entre os meus amigos verdadeiros: “o fulano não merece.”. E eu não sei? Qualquer um sabe que aquele que trai não merece o sofrimento do traído. Mas não é por ele que sofro. É por mim. Por ter acreditado, confiado, dado a quem não merece um valor tão distante da realidade que ele vive.

Não sou a primeira nem serei a última a passar por isso. A cada dia se tornam mais raros sentimentos como amizade sem querer nada em troca, caridade por opção, perdão de coração... a cada dia fica mais difícil acreditar no ser humano.

Mas eu sou teimosa, eu insisto. Se um me decepciona hoje outros me engrandecem amanhã. E é nesses que eu me foco. Ah, como eu sou teimosa... insisto em acreditar no bem dentro do ser humano. Por mais que um ou dois me matem um pouquinho, outros me ressuscitam. É assim com todos nós. Ninguém é santo por aqui, ou aqui não estaríamos. Que Deus perdoe meus incontáveis defeitos – não são poucos, eu sei – mas que também me ilumine para que eu saiba enxergá-los e procurar melhorar.

Alguém que eu amava partiu o meu coração. Que eu consiga fazer disso um exemplo para tentar, por mais imperfeita que eu seja, não partir o coração de quem me ama. Tudo na vida é aprendizado. Que o meu rosto deformado de hoje seja experiência para que eu não cause tantas lágrimas em ninguém amanhã.

Que me sirva de lição. Não para tornar-me mais insensível, mas para que, mantendo a minha sensibilidade, eu jamais faça a outros o que fizeram comigo.

Hoje eu perdi um amigo. Alguém que eu amava, por quem dedicava grande carinho, que podia contar comigo para o que fosse, por quem pedia em minhas orações, a quem sempre procurei compreender e dar o meu melhor. Hoje eu o perdi.

Será? Pensando bem... acho que foi ele quem perdeu.

(Texto escrito em 02.12.2011)

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