Tum Tum Tum – Zé Pereira: olha o Roque cariá

24 de Fevereiro de 2017
Jornal O Liberal

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*Chiquinho de Asssis

No ano em que celebramos os 150 anos do Zé Pereira, a agremiação mais antiga do país em atividade, o boneco e seus tambores voltam às ruas trazendo o encanto, a beleza, os sonhos daqueles que não desistem nunca de brincar.

Ao perceber as portas da Rua Santa Efigênia se abrirem, dezenas de meninos e meninas já sabem:

  • Hoje tem Zé Pereira? Tem sim senhor.

As famílias correm ao Largo de Marília, os meninos e suas latas velhas tocam o som estampido na memória. Começam a se desdobrar movimentos inspirados no velho Zé.

  • Que Bloco é esse? Pergunta o turista aprendiz.

  • Bloco não meu senhor - responde um senhor da janela - é o Club dos Lacaios…

Isso mesmo Club, numa influência talvez dos Clubs da segunda metade do século XIX que apareciam para ser local de encontros das famílias abastadas dos Estados Unidos e da Europa.

Mas foi às avessas desse ambiente que os funcionários rasos do Palácio do Governador se organizaram, ou melhor, se ressignificaram para celebrar o carnaval. Uma ressignificação dos Lacaios.

Daí se passaram anos, décadas, jubileus, bodas múltiplas e aqui estamos.

O Zé Pereira, com a sua mesma magia, com os seus bonecos, seus tambores, seus clarins, talvez nos falte as lanternas…

Mas lá está ele, em janeiro, fevereiro, ladeira acima, ladeira abaixo. O boneco que um dia me assustou, hoje assusta meu filho. Assusta e encanta. Atiça e conquista. Afasta e aproxima. Sua batida hipnotiza.

Desse sincretismo, dessa paradoxal resposta anímica, surge a figura de Zé. Nossa Glória Maior Carnavalesca da fonte momesca.

Zé, mais um Zé. Mas esse não seria ninguém sem a sua baiana, sem o Benedito e sem tantos outros bonecos que virão. Mas, também sou obrigado a reconhecer, Zé não seria Pereira sem o Cariá. O capeta que afasta, que assusta, que encanta a multidão. Com seus chifres, seu rabo, seu garfo a lamber fogo no chão.

O Cariá que vivi, o Cariá que foi o meu carnaval, é o Cariá Roque. Roque e seu estado temperamental, temperou o carnaval de gerações. Hoje ele segue mais tímido, levando o estandarte da agremiação depois de animar e guardar o Zé Pereira com seu garfo por 65 anos. Roque é o maioral da tradição. A lembrança viva do Zé Pereira.

Roque das Cabeças agitando Antônio Dias. Roque dos mistérios, Roque da Magia. Roque que quando foi cariá pela primeira vez o Zé Pereira tinha apenas 85 anos de tradição, hoje 150.

Ou seja, o meu Zé Pereira não existe sem o Roque. Aos que chegam segue o exemplo, aos que sempre zelaram por essa tradição o nosso reconhecimento. Salve seu Dodo e família e todos os demais. Aos que não deixam a peteca cair segue o nosso abraço. Salve Arthur jovem apaixonado.

Que a imagem do encontro seja a certeza da continuidade.

Pausa.

Enquanto escrevo escuto um bloco se aproximar esquentando os tambores lembrando o ritmo do Zé Pereira.

Que essa magia sesquicentenária seja a nossa guia nos próximos 150 anos.

Que pena, lá não estarei, mas de onde estiver, quero ouvir os meus netos e bisnetos a gritar:

Tum Tum Tum - Zé Pereira.

Tum Tum Tum Tum - Zé Pereira.

*Músico, vereador e militante pelo Partido Verde em Ouro Preto

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