Valente é quem corre

05 de Novembro de 2015
Valdete Braga

Valdete Braga

Até agora, sempre que alguém me dizia que evita assuntos sobre política, eu respondia que é preciso se inteirar, ouvir as partes, para se chegar a uma conclusão. Sempre fui contra o fanatismo que toma conta de alguns, principalmente em período eleitoral, quando as emoções afloram e algumas pessoas, em número cada vez mais crescente, chegam às raias da loucura, em defesas ou ataques a candidatos, partidos ou grupos. Porém, fanatismos à parte, sempre defendi que o cidadão precisa ler, ouvir, enfim, informar-se.

De uns tempos para cá, passei a entender esse sentimento, e hoje comungo com ele. Diante do quadro que vivemos, como dizia o meu pai, “valente é quem corre”. Torna-se cada dia mais difícil o diálogo, em qualquer nível. As pessoas não conversam mais, elas brigam. Conseguiram, tristemente, a divisão do país em dois: os bons, corretos, trabalhadores e honestos de um lado e a bandidagem, corrupta, desonesta, do outro. Os bons são os do meu partido. Os ruins são os do outro. Qual partido? Ah, isso é o de menos. Quem pertence à minha sigla partidária é Deus, quem está em outra, é o demônio. A sigla também não importa, eu não preciso nem saber o que aquelas letras juntas significam, a minha função é só defender quem faz parte dela, independente dos atos que a pessoa cometa.

Perdeu-se o senso de lucidez. Agride-se sem nem saber a quem ou porque, e defende-se da mesma forma. Eu sou do partido A. Aquele deputado do partido B? Não vale nada, devia estar na cadeia. Eu não tenho idéia de quem ele seja e não sei nada sobre o seu histórico, mas se o nome dele aparece em um esquema do qual também não sei nada, basta ele ser do partido B para que eu atire todas as pedras do mundo. Agora imaginemos o contrário: eu sou do partido B. O mesmo deputado apareceu no mesmo esquema sob as mesmas acusações. Aí eu morro para defender a inocência dele. Coitadinho, injustiçado, só fez o bem. Aliás, eu nem sei o que ele fez, mas se ele é do meu partido, foi o bem, com certeza.

Tomo deputado como exemplo, mas serve para todos os políticos, da vereança à presidência da República. O cidadão comum está se dividindo entre o bem e o mal, baseado em sigla partidária, e este é um caminho perigoso. Como defender que a pessoa se informe? A informação já está definida na cabeça do eleitor: meu partido é santo e ponto final. Da mesma forma, o partido opositor a mim é o demônio encarnado. E ponto final também. Enquanto não aprendermos a pensar por nós mesmos, vai ser assim. Triste.

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