Vamos mais devagar

16 de Dezembro de 2012
Valdete Braga

Valdete Braga

Em uma reunião de trabalho, falávamos e utilizávamos o notebook ao mesmo tempo. De vez em quando algum celular tocava, a pessoa pedia licença, saía e atendia e depois voltava.

Quando ia para casa, o motorista do ônibus quase jogou uma senhora no chão na pressa em arrancar o veículo.

Mais tarde, no carro com um amigo, o sinal fechou e ele soltou um palavrão, porque estava atrasado.

Cheguei em casa e fui tomar um banho, depois de um dia cheio e um calor insuportável. Debaixo do chuveiro, ouvi o telefone tocar. Continuei debaixo da minha água morninha, relaxando do exaustivo dia.

Somente depois que saí do banho, coloquei uma roupa fresquinha e me senti nova em folha fui ver o recado, na secretária eletrônica. Era uma amiga, desesperada, falando aos borbotões, me pedindo para retornar. Estava super nervosa, tinha brigado com o marido, e segundo suas palavras ia “explodir”.

Calma, gente! Onde essa correria toda vai nos levar? Internet, celular e reunião ao mesmo tempo, estresse no trânsito, desespero ao telefone... será que precisamos mesmo correr tanto? Para chegar onde? Atingir todos os objetivos (a palavra da moda é “meta”) até os trinta anos e morrer de infarto aos quarenta? Sofrer um AVC antes dos cinqüenta?

Não estou defendendo a preguiça, não é isso. Mas essa correria desenfreada em busca não se sabe de que na qual nos inserimos também não é nada saudável. Se formos mais devagar chegaremos do mesmo jeito e menos cansados.

Atualmente a gente corre sem nem saber direito porque. Correr virou lugar comum.

– Oi, como vai?
– Na correria de sempre.
– Eu também.
– Então ta. Tchau.

Claro que nos tempos atuais não dá para marcar chá das cinco com bolinhos todos os dias. O mundo mudou, as pessoas mudaram. Mas acho que não é para tanto. Meia hora por dia que cada um tirar para si, já ajuda muito. Assistir a um filme, bater um papo com amigos, brincar com o cachorro... enfim.... parar. Precisamos parar.

Corre-se tanto que as coisas que realmente importam ficam para trás. De que adianta ultrapassar a tal da meta exigida pela empresa e não ver o filho crescer? Ganhar dinheiro suficiente para comprar uma casa enorme e não se encontrar com a família dentro dela? Passar em primeiro lugar no vestibular e uma vez dentro da Universidade, recorrer às drogas para conseguir manter-se “ligado” e manter o ritmo?

O lado profissional é importante. O lado social é importante. O lado cultural é importante. Mas o lado humano é fundamental.

Vamos mais devagar, para podermos usufruir o que a vida nos oferece. Melhor do que correr, correr, e nunca chegar.

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