Zé Baiano, uma saudade de dar dó

04 de Fevereiro de 2016
João de Carvalho

João de Carvalho

ÉMILE DURKHEIM (1858/1917), em sua obra “Divisão do Trabalho Social” faz uma distinção que julgo imprescindível qualificá-la, como base de meus simples argumentos, a fim de destacar um modesto personagem que chamou minha atenção pelo seu trabalho voluntário, José Francisco, nascido aos 28/04/1937, em Araçuaí/MG, mais conhecido como Zé Baiano, pedreiro de mão cheia, como se dizia no interior, para qualificá-lo como bom profissional.

Segundo Émile, existem a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica. Aquela, a mecânica, era a que predominava nas sociedades pré-capitalistas, onde os indivíduos se identificavam por meio da família, da religião, da tradição e dos costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em relação à divisão do trabalho social. Esta, a orgânica, é típica das sociedades capitalistas, em que, pela acelerada divisão do trabalho social, os indivíduos se tornam interdependentes. O livro em análise retrata a solidariedade mecânica.

ESCRITO por Rildo Parreiras, leva o título: “Zé Baiano – uma lenda da Várzea” – é de sabor familiar, em toda sua extensão narrativa. O autor, marcado pela simplicidade expositiva, retrata a imagem de corpo inteiro de um homem responsável, amigo, sincero, exigente, verdadeiro guia da juventude esportiva do lugar. Sua predileção, além da família e amigos, era o time denominado “Maravilha Futebol Clube”. Com vitória ou derrota Zé sentia sempre a certeza do dever cumprido! Após cada batalha era um soldado satisfeito voltando pra casa. Seu cuidado, além do ensinamento esportivo, era sua preocupação na correção comportamental da garotada, mantendo contato com a família. A escola sempre em primeiro lugar. As viagens eram alegres e mensais. Zé dava todas as instruções úteis para as disputas fora de casa. Dominava a arte de comandar uma equipe, em concorridas partidas. As instruções eram claras, precisas, exigidas, com profissionalismo. A Semana Santa era dedicada à reflexão, somente. No período de férias, todos estavam isentos de jogos. Na lembrança ficam para trás os sacolejos da locomotiva passando por Sarzedo, Mário Campos e outras estações. As histórias arrepiantes da Tia marcaram a imaginação, especialmente sobre defuntos.

Os campeonatos eram divertidos. As paqueras que arrepiavam e faziam chorar. O Zé sempre em contato com a Federação para marcar jogos. Jamais abria mão da disciplina, do respeito e da organização. Sofria ele com êxodo de craques que saiam para grandes times. A maior dor do treinador foi a perda do Campo para a especulação imobiliária. “Os golpes do consumismo, do capitalismo e da incompetência social de alguns governantes, minaram, pouco a pouco, a capacidade física do velho Baiano”. Quantos domingos sem a magia que o futebol trazia. Zé definhava, aos poucos, até que no dia 02 de fevereiro de 2005 chegou para ele a hora final. O Luto foi geral. Ele ensinou o caminho do bem, dos sonhos e da competição. Missão cumprida! À sua partida, no Campo Santo, todo mundo estava junto. Zé saiu do Campo, mas permaneceu na lembrança e nos corações de todos. O Autor do livro é ex-aluno de Zé Baiano.

EM SUMA, através do livro, conseguimos sintetizar o trabalho deste homem simples, carinhosamente chamado por todos de Zé Baiano, um pedreiro que soube edificar sua melhor obra, através do esporte, colaborando na formação dos jovens de sua época. Ele foi o inesquecível pai, entre outros filhos, de Antônio Francisco Gonçalves, Juiz de Direito da Comarca de Itabirito, Minas Gerais.

(Acesse: www.leiturahobbyperfeito.blogspot.com.br)

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