Duarte pede mais atenção do governador na superação da tragédia do rompimento da barragem
O desentendimento público entre o governo do estado e a prefeitura de Mariana não foi impedimento para a realização do Dia de Minas, ocorrido no sábado (16) aniversário da cidade, que completou 320 anos. Após a polêmica na realização ou não do evento, o executivo municipal decidiu promover a cerimônia aberta ao público, com a presença de personalidades políticas, esportivas, da imprensa e juristas. Pela primeira vez em 37 anos, a cerimônia não teve a presença do Estado. O governo mineiro justificou que em respeito às vítimas da tragédia que se abateu na cidade há oito meses, optou por não realizar a solenidade.
As comemorações iniciaram às 8h com uma Missa na igreja Nossa Senhora do Carmo, presidida pelo arcebispo Dom Geraldo Lírio Rocha. Às 10 foi a cerimônia da Comenda do Dia de Minas, na Praça Minas Gerais.
A tragédia do rompimento da barragem de Fundão, ocorrida em novembro do ano passado, foi o principal tema dos discursos. Devido às restrições da Lei Eleitoral, o prefeito Duarte Júnior não pode subir ao palco, mas o seu pronunciamento foi lido pela assessora de comunicação. “Não desejamos ficar conhecidos como palco de desastre ou cenário de sofrimentos. A mãe de Minas tem mais a oferecer. Ouçamos a voz daqueles, que por seus méritos, se fizeram filhos desta terra. Solidários, voluntários, abnegados, nesta entrega se tornaram filhos de Mariana”, destacou-se a mensagem na voz de Kíria Ribeiro, enfatizando a ajuda à cidade vinda de diversas localidades do país após a tragédia.
O deputado federal Paulo Abi-Ackel, um dos homenageados, falou apoio do governo federal. “Já conseguimos a atenção do presidente da República, que prometeu o zelo, cuidado, e atenção para que o povo de Mariana, em face do desastre, não seja prejudicado com o empobrecimento da cidade, o desemprego e a falta de obras”, destacou Abi-Ackel.
O ministro das cidades, Bruno Cavalcanti Araújo, orador oficial da cerimônia, afirmou que, mesmo não sendo responsabilidade do ministério, não tem medido esforços para ajudar a cidade. “Faço aqui a minha profissão e compromisso, de colocar meu esforço pessoal a serviço da grandeza de Mariana, cidade pioneira em Minas Gerais, e no Brasil. Tenho certeza que com serenidade e trabalho vamos superar os desafios impostos a todos nós”, garantiu o ministro.
Apesar do evento ser aberto ao público, o que não ocorria há muito tempo como medida de segurança do estado, poucos populares tiveram interesse em participar da cerimônia. “Eu sinceramente achei uma palhaçada. Uma propaganda para enganar o povo, pois chega aqui, a gente vê o desfile da Guarda (GM) carros da polícia, mas nos bairros, não temos segurança nenhuma. Essa sim deveria ser a preocupação da prefeitura, e não festa para 'inglês ver'”, ressaltou uma moradora do Catete, que preferiu não se identificar, por ser funcionária pública.
Mas há quem gostou e parabenizou ao executivo pelo evento. “Foi uma ótima oportunidade de mostrar que o evento pode acontecer independente do governo do estado. Estamos aqui para comemorar o aniversário da cidade. Que graça tem se a população não puder participar?”, questiona o marianense Adeilson dos Anjos.
Os homenageados
Por recomendação eleitoral, pela primeira vez, não foram concedidas homenagens a cidadãos marianenses. Outra recomendação do jurídico foi que o prefeito e vereadores não subissem ao palco. O prefeito Duarte Júnior acompanhou a cerimônia do adro da igreja de São Francisco, ao lado da população.
A medalha do Dia de Minas foi concedida a 23 personalidades e voluntários que prestaram serviços relevantes durante a tragédia ocorrida em 5 de novembro de 2015. A homenagem foi entregue pela primeira-dama do município, Regiane Oliveira e pelo secretário de Governo, Edvaldo Andrade. Contradições
Em uma nota divulgada no dia 9 de julho, o governo de Minas dizia que, em acordo com a prefeitura de Mariana, optaram por não realizar o evento este ano em respeito às vítimas da tragédia do rompimento da barragem. Retificada no dia 11, a decisão passou a ser considerada como responsabilidade do estado, mantendo a justificativa.
Já a prefeitura contesta a versão de que houve consenso e de que recebeu notificação oficial. “O governador Fernando Pimentel é importante em qualquer lugar que ele esteja. O convidamos para participar conosco deste dia, mas infelizmente ele não compareceu”, mencionou o prefeito durante coletiva. Duarte ainda pontuou que não concordou com a justificativa do estado. “Nós não concordamos que há que se guardar o luto. A gente entende o que aconteceu, nós sofremos, mas nos levantamos e seguimos em frente. Nós temos que mostrar que Mariana continua viva, que temos sérios problemas a serem resolvidos, mas que precisamos mais do que nunca do apoio dos governos federal e estadual”.
Questionado sobre a falta de atenção do governo do estado com a cidade, Duarte acredita que falta interesse. “Até o momento o estado não fez nada que realmente amenizasse o tamanho da tragédia. Até o momento não consegui conversar pessoalmente com o governador. Marquei duas audiências, que foram desmarcadas. Ficamos sentidos, mas respeitamos e não queremos polemizar de forma alguma. Precisamos muito da ajuda do estado, temos que pensar no coletivo e no bem comum de todos”, desabafa.