Mesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana

Mariana,
22 de Julho de 2016

Duarte pede mais atenção do governador na superação da tragédia do rompimento da barragem

O desentendimento público entre o governo do estado e a prefeitura de Mariana não foi impedimento para a realização do Dia de Minas, ocorrido no sábado (16) aniversário da cidade, que completou 320 anos. Após a polêmica na realização ou não do evento, o executivo municipal decidiu promover a cerimônia aberta ao público, com a presença de personalidades políticas, esportivas, da imprensa e juristas. Pela primeira vez em 37 anos, a cerimônia não teve a presença do Estado. O governo mineiro justificou que em respeito às vítimas da tragédia que se abateu na cidade há oito meses, optou por não realizar a solenidade.

As comemorações iniciaram às 8h com uma Missa na igreja Nossa Senhora do Carmo, presidida pelo arcebispo Dom Geraldo Lírio Rocha. Às 10 foi a cerimônia da Comenda do Dia de Minas, na Praça Minas Gerais.

A tragédia do rompimento da barragem de Fundão, ocorrida em novembro do ano passado, foi o principal tema dos discursos. Devido às restrições da Lei Eleitoral, o prefeito Duarte Júnior não pode subir ao palco, mas o seu pronunciamento foi lido pela assessora de comunicação. “Não desejamos ficar conhecidos como palco de desastre ou cenário de sofrimentos. A mãe de Minas tem mais a oferecer. Ouçamos a voz daqueles, que por seus méritos, se fizeram filhos desta terra. Solidários, voluntários, abnegados, nesta entrega se tornaram filhos de Mariana”, destacou-se a mensagem na voz de Kíria Ribeiro, enfatizando a ajuda à cidade vinda de diversas localidades do país após a tragédia.

O deputado federal Paulo Abi-Ackel, um dos homenageados, falou apoio do governo federal. “Já conseguimos a atenção do presidente da República, que prometeu o zelo, cuidado, e atenção para que o povo de Mariana, em face do desastre, não seja prejudicado com o empobrecimento da cidade, o desemprego e a falta de obras”, destacou Abi-Ackel.

O ministro das cidades, Bruno Cavalcanti Araújo, orador oficial da cerimônia, afirmou que, mesmo não sendo responsabilidade do ministério, não tem medido esforços para ajudar a cidade. “Faço aqui a minha profissão e compromisso, de colocar meu esforço pessoal a serviço da grandeza de Mariana, cidade pioneira em Minas Gerais, e no Brasil. Tenho certeza que com serenidade e trabalho vamos superar os desafios impostos a todos nós”, garantiu o ministro.

Apesar do evento ser aberto ao público, o que não ocorria há muito tempo como medida de segurança do estado, poucos populares tiveram interesse em participar da cerimônia. “Eu sinceramente achei uma palhaçada. Uma propaganda para enganar o povo, pois chega aqui, a gente vê o desfile da Guarda (GM) carros da polícia, mas nos bairros, não temos segurança nenhuma. Essa sim deveria ser a preocupação da prefeitura, e não festa para 'inglês ver'”, ressaltou uma moradora do Catete, que preferiu não se identificar, por ser funcionária pública.

Mas há quem gostou e parabenizou ao executivo pelo evento. “Foi uma ótima oportunidade de mostrar que o evento pode acontecer independente do governo do estado. Estamos aqui para comemorar o aniversário da cidade. Que graça tem se a população não puder participar?”, questiona o marianense Adeilson dos Anjos.

Os homenageados

Por recomendação eleitoral, pela primeira vez, não foram concedidas homenagens a cidadãos marianenses. Outra recomendação do jurídico foi que o prefeito e vereadores não subissem ao palco. O prefeito Duarte Júnior acompanhou a cerimônia do adro da igreja de São Francisco, ao lado da população.

A medalha do Dia de Minas foi concedida a 23 personalidades e voluntários que prestaram serviços relevantes durante a tragédia ocorrida em 5 de novembro de 2015. A homenagem foi entregue pela primeira-dama do município, Regiane Oliveira e pelo secretário de Governo, Edvaldo Andrade. Contradições

Em uma nota divulgada no dia 9 de julho, o governo de Minas dizia que, em acordo com a prefeitura de Mariana, optaram por não realizar o evento este ano em respeito às vítimas da tragédia do rompimento da barragem. Retificada no dia 11, a decisão passou a ser considerada como responsabilidade do estado, mantendo a justificativa.

Já a prefeitura contesta a versão de que houve consenso e de que recebeu notificação oficial. “O governador Fernando Pimentel é importante em qualquer lugar que ele esteja. O convidamos para participar conosco deste dia, mas infelizmente ele não compareceu”, mencionou o prefeito durante coletiva. Duarte ainda pontuou que não concordou com a justificativa do estado. “Nós não concordamos que há que se guardar o luto. A gente entende o que aconteceu, nós sofremos, mas nos levantamos e seguimos em frente. Nós temos que mostrar que Mariana continua viva, que temos sérios problemas a serem resolvidos, mas que precisamos mais do que nunca do apoio dos governos federal e estadual”.

Questionado sobre a falta de atenção do governo do estado com a cidade, Duarte acredita que falta interesse. “Até o momento o estado não fez nada que realmente amenizasse o tamanho da tragédia. Até o momento não consegui conversar pessoalmente com o governador. Marquei duas audiências, que foram desmarcadas. Ficamos sentidos, mas respeitamos e não queremos polemizar de forma alguma. Precisamos muito da ajuda do estado, temos que pensar no coletivo e no bem comum de todos”, desabafa.

Mesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana - Foto de Michelle BorgesMesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana - Foto de Michelle BorgesMesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana - Foto de Michelle BorgesMesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana - Foto de Michelle BorgesMesmo sem o apoio do governo do estado, prefeitura promove Dia de Minas em Mariana
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